"Chivukuvuku tem obrigado o partido de Samakuva a melhorar e a modernizar-se"

Para o professor universitário e analista, a era pós-Eduardo dos Santos será marcada por um combate no seio do MPLA entre a ala jovem e os "dinossauros"

Para Justino Pinto de Andrade, a morte de Savimbi abriu espaço a várias alternativas de liderança da UNITA a Uma UNITA à conquista dos centros urbanos. É como Justino Pinto de Andrade, comentarista político angolano analisa o partido do Galo Negro, cinco anos depois da morte de Jonas Savimbi. Em entrevista ao PÚBLICO, aponta também para o aumento do pluralismo interno como uma tendência que poderá trazer à ribalta novos personagens dispostos a lutarem pela liderança da UNITA. Justino Pinto de Andrade é economista, professor universitário e analista político. Foi militante da Luta de Libertação Nacional. Preso como dissidente do MPLA após a independência de Angola, é um dos fundadores da Associação Cívica Angolana (ACA), sendo uma voz activa na defesa dos direitos humanos e da abertura democrática. Escreve regularmente nos jornais privados e é também comentador na Rádio Ecclésia.
Cinco anos depois da morte de Savimbi, o que é a UNITA?
A UNITA deixou de ser um movimento de guerrilha para passar a ser um partido político. É uma UNITA melhor porque já não tem armas e porque no seu interior a democracia está a ganhar espaço. Neste momento existem já alternativas à actual liderança.
O nome que mais sobressai é o de Abel Chivukuvuku.
Chivukuvuku tem obrigado a UNITA a melhorar e a modernizar-se. Na parte final da guerra, exercia já uma acção positiva, dado que era uma voz dissonante dentro da UNITA. Enquanto Savimbi estava nas matas, Chivukuvuku estava em Luanda, onde se opunha abertamente à via militar que o seu partido pretendia seguir.
O que o diferencia de Samakuva?
Tanto Chivukuvuku como Samakuva são diplomatas, transmitem a ideia de que a guerra já acabou. No entanto, o primeiro tem uma imagem mais jovem, é muito mais comunicativo e tem um perfil, sobretudo, urbano. Chivukuvuku representou já a UNITA em Washington e em Lisboa, o que lhe deu uma capacidade de avaliação dos países democráticos, que agora o favorece. Por seu lado Samakuva, que teve também a vantagem de ter vivido em grandes cidades como Paris e Londres, tem um carácter mais hermético e menos comunicativo.
Outro que poderá entrar na corrida é Massanga Sakato, filho de Savimbi. É determinante?
Esta figura é ainda um mistério. Algumas notícias deram-no como candidato à presidência da UNITA nos próximos quatro anos, mas o assunto morreu. A questão do nome e da filiação é importante, mas não é inédita. Mas a verdade é que nas hostes adversárias essa candidatura poderá criar receios no MPLA e levantar fantasmas.
A estratégia política da UNITA terá de ter em conta o cenário de uma Angola pós-Eduardo dos Santos. Como será o day after do actual Presidente?
Creio que será, definitivamente, o fim da era da luta pela libertação nacional. Seguir-se-á um combate no seio do MPLA entre a ala jovem e os "dinossauros" que por lá andam, numa luta em que ainda não sabemos como é a correlação de forças.

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