Patrícia Portela e Tiago Rodrigues partem literalmente um espectáculo ao meio

Não são autores gémeos nem querem ser. Mas dividem um palco para contar duas histórias que não querem ter nada em comum mas... Duas Metades, a partir de hoje, na Culturgest

a Duas Metades é um espectáculo dividido ao meio. Parece uma redundância mas serve bem para explicar que, de facto, cada parte foi escrita por um autor: Patrícia Portela, a encenadora da elogiada trilogia Flatland, que em 2005 recebeu o Prémio Acarte/Madalena Azeredo Perdigão, e Tiago Rodrigues, o actor que se move por registos tão diferentes que vão do grupo de teatro alternativo flamengo Tg Stan às Produções Fictícias.Um é um monólogo, o outro é um diálogo para um homem e uma mulher e os dois contam uma história de olhos bem directos para o público que for vê-los à Culturgest, em Lisboa, onde hoje estreia. Resumindo: Duas Metades "é um todo composto por duas partes mas que têm identidades diferentes", diz Tiago Rodrigues. E, recapitulando, pela ordem que os vimos num ensaio matinal ainda sem opções definitivas tomadas: Tiago Rodrigues interpreta o texto de Patrícia Portela; Cláudia Gaiolas e Tonán Quito o de Tiago Rodrigues. Sem artifícios nem efeitos de representação, Tiago Rodrigues conta-nos a história de um homem que tem qualquer coisa de naïve e vai conhecer o mundo com terra nos bolsos. Serve de metáfora da globalização e até lança a hipótese de os países, eles próprios, se deslocarem de um lado para o outro (sendo que "o tempo se calhar é o maior país", como diz a personagem). Cláudia Gaiolas e Tónan Quito são um par a contar a mesma história em uníssono, com variações no narrador (ele na terceira pessoa, ela na primeira) ou então cada um à sua maneira - é uma pequena história de amor, desencadeada por uma ida ao hospital, com ela à beira da morte.
Residência em Montemor
As Duas Metades acabam por funcionar como dois espectáculos-em-um e até podiam vir da mesma família, mas Tiago Rodrigues e Patrícia Portela não são autores gêmeos e nem tão pouco o querem parecer ser. As comparações deveriam ficar por aqui, pelo menos como proposta, porque foi desde logo assumido que se iam juntar, sim, mas não com o compromisso de criar uma unidade.
Porque esta é uma proposta que veio de fora. Depois do espectáculo Urgências no Teatro Maria Matos, em Lisboa, onde se juntaram peças curtas de 11 autores, a Culturgest e O Espaço do Tempo desafiaram-nos a escrever "uma peça de maior fôlego" - e assim os dois fizeram uma versão aumentada e revista dos textos História de Babbot e Coro dos Amantes a Caminho do Hospital. Tiago Rodrigues já fazia o texto de Patrícia Portela nas Urgências e Tónan Quito e Cláudia Gaiolas também tinham feito Coro dos Amantes, por isso o crescimento dos textos acabou por ser condicionado pela equipa que os trabalhou em residência em Montemor, n"O Espaço do Tempo (do coreógrafo Rui Horta) - e entretanto Portela (que apesar de também ser encenadora aqui aparece só como autora) trocava ideias com Rodrigues por Skype a partir da Bélgica. No fim de tudo, até há qualquer coisa em comum entre as duas peças: a ideia de tempo, sobre a qual Patrícia Portela tem trabalhado e que Tiago Rodrigues também desenvolveu. Naquele que considera ser o seu primeiro texto para teatro, dá a sensação de ter algo biográfico mas o actor ri-se quando falamos disto dizendo que não tem essa pretensão. Conclusão - e em duas metades: "Há muitas coisas que estão ali e já me aconteceram e há muitas coisas que não aconteceram. Gosto da ideia de partir de polaróides da nossa vida e construir um álbum onde há muitas fotografias que não são da nossa vida."

Duas Metades
De Patrícia Portela, Tiago Rodrigues. Com Cláudia Gaiolas, Tiago Rodrigues, Tónan Quito.
LISBOA. Culturgest. R. Arco do Cego, Ed. CGD. Até 18/02. 3ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 17h. Tel.: 217905155. Bilhetes: 12\uE075 (5\uE075 para -30 anos)

Sugerir correcção