China tem o triplo de crentes do que diz o governo

A população da China, país oficialmente ateu, pode ter um "chocante" número de crentes três vezes superior às estimativas até agora divulgadas pelo Governo, de acordo com um inquérito de opinião, raro no país. A sondagem, com cerca de 4500 pessoas entrevistadas, foi dirigida por professores da Universidade China do Leste, de Xangai. De acordo com os resultados, 31,4 por cento dos chineses com mais de 16 anos - ou seja, cerca de 300 milhões - são crentes.
Ainda de acordo com o inquérito, o budismo, o taoísmo, o cristianismo e o islão são as religiões mais importantes. Menos de 15 por cento dos que responderam afirmaram-se ateus. E dois terços dos que se dizem crentes têm entre 16 e 39 anos.
Os resultados foram divulgados anteontem pelo China Daily e citados pela Reuters. A China, governada desde 1949 pelo Partido Comunista Chinês, garante constitucionalmente a liberdade religiosa e a possibilidade de qualquer pessoas frequentar cultos em igrejas, mesquitas e templos, mesmo que sob o controlo das autoridades. Mas vários grupos de defesa dos direitos humanos acusam o regime de prender padres e bispos católicos e monges budistas por se manterem fiéis ao Papa e ao Dalai Lama, respectivamente.
De acordo com o relatório anual Liberdade Religiosa no Mundo, elaborado pela organização internacional Ajuda à Igreja que Sofre, a China continua no topo das violações à liberdade religiosa, a par de outros países como Coreia do Norte, Vietname, Laos, Birmânia ou Arábia Saudita.
Entre os grupos perseguidos, além de católicos e budistas, estão também os adeptos da seita Falun Gong, protestantes, os muçulmanos uighura - ou seja, todos os que recusam a integração nas estruturas religiosas controlados pelo Estado.
A tortura, a destruição de locais de culto, a proibição de contactos e de educação de jovens são alguns dos métodos, de acordo com aquele relatório, utilizados na perseguição religiosa.
Após as primeiras décadas de regime comunista (e de modo especial durante a Revolução Cultural, entre 1966 e 1976, em que sucessivas purgas levaram à prisão e morte de milhares de crentes), a religião terá começado a recuperar. "O seu crescimento parece ter-se acelerado no início deste novo século", refere Liu Zhongyu, um dos responsáveis pelo estudo agora noticiado, citado pelo Oriental Outlook. PÚBLICO/REUTERS

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