Bactéria saiu de África à boleia com os primeiros homens modernos

Helicobacter pylori causa úlceras gástricas há mais de 50 mil anos, conclui estudo

Saiu de África há mais de 50 mil anos, como um passageiro discreto. A Helicobacter pylori, a bactéria culpada por grande parte das úlceras gástricas, mas que muitas vezes nem dá sinal de vida, já ia no estômago dos primeiros Homo sapiens a aventurarem-se por toda a Terra - revela um artigo na edição on-line da revista Nature. Aos poucos, os primeiros Homo sapiens que partiram de África chegaram ao Médio Oriente, depois à Ásia, Austrália, Europa e América. Mas esta visão parte do princípio de que o Homo sapiens, a nossa espécie, nasceu em África há cerca de 200 mil anos e saiu de lá já com características anatómicas modernas, como por exemplo um corpo longilíneo. Há quem que defenda que foram outros humanos a sair de África, há mais tempo, e foi deles que evoluiu o Homo sapiens, em vários pontos do planeta.
A Helicobacter pylori (na imagem) pode dizer alguma coisa sobre este assunto e ainda há quanto tempo infecta os humanos, refere a equipa de Mark Achtman, do Instituto Max-Planck de Biologia das Infecções, em Berlim.
As estirpes da bactéria têm certos padrões de diversidade genética conforme as regiões geográficas, tal como os humanos. No local onde surgiu uma espécie costuma encontrar-se maior diversidade genética do que em regiões mais afastadas, porque os que partiram são só uma pequena amostra. Foi o que observou a equipa de Achtman, tanto na Helicobacter pylori como nos humanos modernos, ao usar dados de 769 estirpes da bactéria isoladas em 51 grupos populacionais humanos.
"A data da associação entre esta bactéria e os humanos tem sido bastante controversa", começam por escrever. "Mostramos que a diversidade genética da Helicobacter pylori decresce à medida que aumenta a distância geográfica da África oriental, o berço dos humanos modernos", acrescentam. "Tal como os humanos, a Helicobacter pylori ter-se-á espalhado a partir de África oriental há cerca de 58 mil anos."
Até 1982, pensava-se que nada sobrevivia no estômago. Os australianos Robin Warren e Barry Marshall descobriram que esta bactéria causava úlceras, até aí atribuídas a certos estilos de vida. Ganharam por isso o Nobel da Medicina de 2005. Afinal, as úlceras podiam tratar-se com antibióticos. T.F.

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