Beatriz da Conceição abre a alma do fado ao seu Porto natal

"Meu Corpo" assinala o regresso ao Porto de uma fadista que ali nasceu, há 67 anos. Beatriz da Conceição volta hoje a mostrar a arte do seu canto, com inéditos de Tiago Torres da Silva

Beatriz da Conceição, uma das maiores fadistas vivas, regressa hoje ao seu Porto natal para actuar na casa da Música. O nome do espectáculo, Meu Corpo, vem de um fado de Ary dos Santos e Fernando Tordo. Mas foi ao escritor e letrista Tiago Torres da Silva que coube a tarefa de escrever para ela alguns fados inéditos e dar forma ao espectáculo.No seu blogue, Tiago já escrevera: "Ela é das poucas fadistas que me põe os cabelos em pé, que me estilhaça a alma, que me faz o que eu espero do fado - desloca-me de mim." Ao PÚBLICO, acrescenta: "Das fadistas que o Porto deu ao fado, ela é a mais amada, a mais característica e foi isso que tentámos retratar neste espectáculo. Ela já não canta no Porto há quatro ou cinco anos e um dos vectores do espectáculo é esse regresso. Por isso a Beatriz da Conceição pediu-me para escrever uma letra especial, "Porto escondido", em que se fala disso, da sua relação com o Porto, das saudades que ela tem."
"Escrevo muito para fadistas e em particular para aquela geração. É uma geração que me acompanhou muito desde criança", diz Tiago Torres da Silva. De Beatriz, tem todos os discos e ouviu-a ao vivo muitas vezes. "Para mim é relativamente fácil, por conhecer tão bem a sua personalidade, escrever para ela. É um prazer e uma honra imensa", afirma.

De táxi para o fadoBeatriz da Conceição Mendes Lage nasceu no Porto, a 21 de Agosto de 1939. Na sua juventude, veio um dia até Lisboa e pediu a um casal amigo que a levasse aos fados. O táxi onde entraram indicou-lhes a Márcia Condessa. Bebeu sangria e, ao verem-na trautear umas quadras, desafiaram-na a cantar. Cantou e já não largaram mais: o fado absorveu-a, até hoje. A história, contou-a a Baptista-Bastos, numa longa entrevista para o livro Fado Falado (Ediclube, 1999). Entrevista onde também revelou o seu primeiro cachet: 60 escudos por noite.
Hoje, com lugar cativo na Taverna do Embuçado, a par de uma carreira internacional que já a levou a inúmeros palcos e festivais por esse mundo, Beatriz da Conceição tem sido uma fonte de inspiração para muitos fadistas, caso, por exemplo, de Aldina Duarte. Para ela, porém, como disse na referida entrevista, há três nomes de mulheres que a inspiraram no canto: Argentina Santos, Fernanda Maria e, acima de todas elas, Lucília do Carmo.
Hoje, na Casa da Música, num espectáculo que percorre a sua carreira mas também a sua relação com a poesia, Beatriz será acompanhada por quatro músicos: "Tentámos ter todas as gerações", diz Tiago Torres da Silva. "Desde o Carlos Gonçalves, que a acompanha há muitos anos, até ao Diogo Clemente, que a tem acompanhado nos últimos tempos. Estarão também Jaime Santos, que é da geração intermédia, e Pedro Castro, da mais recente."
Não há cenários, cabendo às luzes assegurar a cenografia: "Ela é um animal de palco e a ideia foi um bocadinho deixá-la livre para assim poder dar largas ao seu talento."

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