25 anos de "cultura" Chapitô contra a exclusão social

O espaço cresceu, as pessoas também. No início eram 20, agora são 120 trabalhadores na Costa do Castelo, em Lisboa. Mas a casa continua "aberta"

É a casa da fachada colorida na Costa do Castelo, em Lisboa. É uma escola de Artes e Ofícios. E um projecto de integração social. Uma casa portuguesa, com certeza, mas muito mais. O Chapitô comemora hoje 25 anos de vida e "um viveiro de relações interpessoais e artísticas", diz José Carlos Garcia, fundador da companhia. O "Pascoal", antigo aluno, chegou há alguns anos atrás. "Fui quase arrastado, não queria entrar." Veio pela "mão" dos seus professores, "o de Informática e a de Português". Fazia teatro amador, mas tinha "medo" do público. Entrou, fez os três anos do curso e ainda ficou "por aqui" a trabalhar. Se lhe perguntamos o que a escola tem de especial, não responde: "Não sei explicar". Mas "ensinou-me a fazer um mortal, a não ter medo de responder às pessoas e a estar calmo a representar".
Para João Paulo, a experiência foi diferente. Tem o sabor de um início "pequeno" que se tornou "maior". Hoje é acrobata de mastro chinês, formado no Centro Nacional das Artes do Circo de Châlons-en-Campagne (França). Vive em França e percorre o mundo a divulgar o "novo circo". "O Chapitô foi a rampa de lançamento, não foi a única, mas foi a primeira casa, aquela que me fez querer começar a sonhar", recorda.
Nesta casa nasceram também alguns nomes do meio artístico português. O actor José Pedro Vasconcelos é apenas um dos exemplos. Um encontro "por acaso, mas feliz", realça. "Definiu o meu trajecto profissional." Já passaram 15 anos desde que Vasconcelos entrou na companhia, mas volta sempre. "Tenho um carinho enorme e uma experiência do meio artístico diferente, desde que lá estive. É um núcleo à parte".
Talvez porque mais do que uma casa, um projecto ou uma companhia, "o Chapitô é uma forma de estar", diz José Carlos Garcia. "Porque todos convivemos juntos, os miúdos que vivem na Casa do Castelo, os 120 trabalhadores, todos os que entram e os que saem", explica.
Mas também, talvez, porque este projecto tem uma "cara", um nome e uma causa. Uma "cara" que ri, "porque fazer rir foi o que me despertou", conta Teresa Ricou. É ela a cara e o nome que de imediato se associa ao Chapitô. Um projecto que teve na sua origem a causa da justiça social, "porque num mundo onde há tantos obesos e tanta gente a morrer de miséria há, com certeza, algo de errado". "Eu tento encontrar o equilíbrio, estou aqui para dar o meu contributo e tentar concertar", diz Ricou.
Tudo começou nos "subterrâneos de Paris", um "espaço interessante para fazer espectáculos", lembra Ricou. Foi lá que se iniciou também a sua carreira como artista. Para o projecto do Chapitô, seguiu outro exemplo: "O exemplo do meu pai, que também se entregou a uma causa [a lepra]. Em mim ficou a bactéria dessa implicação social."
Hoje, 25 anos depois, o projecto ainda está em curso. "A casa cresceu, criámos um público e queremos dar-lhe as melhores condições para estarem connosco". No próximo ano, em Setembro, vai nascer um novo espaço junto ao rio, o Chapitô Rio. Um lugar para a música (há uma parceria com Zé Pedro dos Xutos&Pontapés), para a leitura, para um museu com o espólio de materiais de circo e ainda para o desporto, com uma "figura" importante ainda por desvendar. A nível pessoal, Ricou também tem um sonho por cumprir: "Voltar a actuar".

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