Protal prevê metro de superfície para a zona de Faro

Críticos do plano temem que o modelo de desenvolvimento do litoral se venha a repetir no barrocal

A criação de um metro de superfície, envolvendo os concelhos de Faro, Loulé e Olhão, é uma das propostas da estratégia de desenvolvimento previstas no novo Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (Protal). Os debates públicos sobre o documento terminaram anteontem, mas até ao fim do mês a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve) ainda aceita as opiniões que lhe forem apresentadas por escrito. Das críticas ouvidas, a mais forte centrou-se nos concursos públicos - a promover pelos municípios - para a construção dos núcleos de desenvolvimento turístico (NDT), que deverão receber 24 mil camas numa fase inicial.No último dos debates efectuados, o que se realizou anteontem na Universidade do Algarve, surgiu uma nova contestação, directamente relacionada com aspectos técnicos do plano. Segundo a proposta que deverá ser submetida a apreciação governamental no início do próximo mês, o litoral e o barrocal algarvio ficam inseridos na mesma unidade territorial de planeamento. Na perspectiva de Fernando Pessoa, arquitecto paisagista, trata-se de duas zonas "distintas, que não podem ser confundidas". O arquitecto alertou para o perigo de se "repetir no barrocal o modelo de desenvolvimento turístico do litoral, que já se viu no que deu".
André Leitão, professor de Ordenamento do Território, lembrou que o barrocal e o litoral "tem aptidões e alternativas de desenvolvimento distintas". Por isso "não faz sentido figurarem na mesma unidade territorial". Campos Correia, presidente da CCDR, respondeu que o assunto poderá ser equacionado na fase de elaboração dos planos directores municipais, uma vez que vão ser criadas 15 subunidades territoriais para o litoral Sul e barrocal. "Os PDM vão ter um amplo espaço de trabalho, o Protal é um plano estratégico", sublinhou.
Entre os projectos estruturantes propostos encontra-se a construção de um metro de superfície para ligar Faro, Loulé e Olhão, zona onde se prevê que, dentro de cinco a seis anos, a população atinga os 200 mil residentes, cerca de metade dos que hoje vivem no Algarve. Na opinião de muitos autarcas, porém, esta e outras ideias correm o risco de não se concretizarem por falta de financiamentos.
O presidente da Região de Turismo do Algarve, Hélder Martins, por seu lado, criticou o Protal em tom irónico: "Proponho que seja criado um grande museu para dar a conhecer morcegos, cobras, lagartos e tomilhos - os inibidores dos grandes projectos turísticos." Depois, num registo mais sério, disse que duvidava da eficácia dos concursos públicos para os NDT. "Existe algum país onde este modelo tinha sido ensaiado?", perguntou. Campos Correia respondeu que, embora noutros moldes, funciona na Alemanha e nos Estados Unidos da América. A Associação de Municípios do Algarve (Amal) começou por rejeitar a proposta referente aos NDT, mas acabou por aceitá-la. As divergências, contudo, persistem em relação à tradição da construção dispersa em espaço rural, que fica proibida, e às propostas de desenvolvimento para a zona serrana, cada vez deserta e ameaçada pelos incêndios.

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