Barragem "destruiu pulmão natural" e Alqueva "é um poço negro", denuncia Greenpeace

A organização ecologista adverte para a má qualidade da água vinda de Espanha e para a especulação urbanística em redor
da albufeira

A organização ecologista Greenpeace, que no passado dia 20 iniciou a descida do Guadiana, desde a sua nascente em Espanha até à foz em Vila Real de Santo António, chegou ontem a Mértola para denunciar o impacte que a Barragem de Alqueva está a ter na biodiversidade em toda a bacia hidrográfica deste rio ibérico.Júlio Barea, responsável pela campanha das águas da Greenpeace, disse ao PÚBLICO que a construção da Barragem de Alqueva "destruiu o pulmão natural" que depurava as águas do Guadiana em território português. A partir de 2002, ano em que foram encerradas as comportas da grande barragem, ficaram retidos em Alqueva sedimentos que transportam uma elevada carga contaminada com nitratos e fosfatos produzidos na actividade agrícola em território espanhol.
Também a falta de tratamento de boa parte dos efluentes domésticos produzidos na cidade de Badajoz e os efluentes industriais provenientes das indústrias agro-alimentares localizadas em Villanueva de la Serena, Medellín e Almendralejo são factores que contribuem para a acelerada degradação dos caudais do rio Guadiana.
" As águas estão supercontaminadas porque Espanha não cumpre as regras comunitárias" denuncia Júlio Barea, que classifica Alqueva como "um poço negro". De ano para ano, a água vinda de Espanha "é cada vez menos e de pior qualidade" prossegue o ecologista espanhol, acusando as autoridades portuguesas de copiar o que de mau se tem feito no seu país no que diz respeito aos usos dados à água do Guadiana. Admite que o regadio de Alqueva nunca venha a ser concretizado.
E explica porquê: as exigências - impostas pela Directiva da Água - de fazer repercutir no preço da água o montante de todos os investimentos feitos no sistema de regadio para beneficiar 110 mil hectares torna o preço da água proibitivo. Para o dirigente da Greenpeace isto explica por que razão o Governo português ainda não fixou o preço da água para os agricultores portugueses.
Mas enquanto o regadio não chega "surge a especulação imobiliária", prossegue Júlio Barea, realçando o impacte que os complexos turísticos previstos para Alqueva vão ter na preservação ambiental e paisagística em território português.

Mais de 40 mil camasNeste aspecto, a Junta da Extremadura "está a seguir os piores exemplos das autoridades portugueses", frisando que do lado espanhol se seguem à risca as alterações no Plano de Ordenamento das Albufeiras de Alqueva e Pedrógão (POAAP), aprovadas recentemente pelo Governo de José Sócrates e que prevêem a instalação de 18 mil camas nos 215 quilómetros quadrados da albufeira.
A Junta da Extremadura, ainda segundo Júlio Barea, tem em preparação um plano de ordenamento do território que contempla a instalação de 16 mil camas nos 35 quilómetros da albufeira que servem o território espanhol - as quais, somadas às prevista em território português, perfazem 34 mil camas. Mas o site do Governo português já anunciou que, para além das 18 mil camas previstas no POAAP, estão programadas mais 7300 para o projecto a instalar na Herdade da Defesa de S.Brás em Moura, a construir junto à albufeira de Pedrógão. Tudo somado, haverá em redor das albufeiras de Alqueva e Pedrogão 41.300 camas.

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