Administração do Porto de Lisboa projecta terminal de cruzeiros para Almada

Seminário sobre o estuário do Tejo reuniu ontem responsáveis do porto e especialistas de várias áreas, que lançaram pistas para a revitalização de áreas expectantes na frente ribeirinha, como a zona de Pedrouços

O presidente da Administração do Porto de Lisboa (APL) revelou ontem que o plano estratégico que esta entidade está a desenvolver para a sua área de jurisdição prevê a construção de um terminal de cruzeiros na margem Sul do Tejo, no concelho de Almada. Se a intenção da APL for concretizada, o que Manuel Frasquilho sublinhou que só acontecerá "se o mercado o vier a justificar", o estuário do Tejo passará a dispor de dois terminais de cruzeiros, já que está prevista a instalação de um outro na zona de Santa Apolónia. Isto, sublinhou o gestor, apesar de a APL "perder dinheiro" com o negócio dos cruzeiros, que em 2005 trouxe cerca de 240 mil passageiros a Lisboa.
Manuel Frasquilho falava no seminário "O estuário do Tejo, reflexão sobre as suas frentes de água", que se realizou ontem na Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, onde está actualmente instalado o terminal de cruzeiros da cidade. Na ocasião, o presidente da APL criticou a "desorganização" com que os turistas se deparam ao chegar a este local, pela qual responsabilizou a Associação Turismo de Lisboa.
Segundo o director coordenador do negócio portuário da APL, Marques Afonso, cada passageiro dos cruzeiros que fazem escala em Lisboa gasta uma média de apenas 19 euros, excluindo o gasto em excursões, o que torna esta actividade "deficitária". Como factor positivo frisou que um inquérito recente concluiu que 65 por cento destes turistas tinham a intenção de regressar à cidade para uma estadia mais prolongada.
Uma das intervenientes no seminário, que continua hoje a partir das 9h30, foi a urbanista Teresa Craveiro, que salientou a existência de duas áreas "muito importantes a repensar" na frente ribeirinha: A zona de Pedrouços e a marina do Parque das Nações, em relação à qual se manifestou "chocada" por ali ter sido implementado um projecto que não funciona.
Sublinhando não estar a falar na qualidade de directora de planeamento estratégico da Câmara Municipal de Lisboa, Teresa Craveiro apelou à APL para que, no caso de Pedrouços, apostasse "não no terciário ou habitação tradicionais mas sim noutras funções relacionadas com a biologia e com a exploração dos oceanos e dos mares". "É uma área estratégica extraordinariamente importante, que não deve ser vista apenas em metros quadrados de construção", afirmou a urbanista, manifestando o desejo de que esta zona se afirme como "a porta de entrada" na cidade de Lisboa.
Já o geógrafo Jorge Gaspar apontou a Baixa pombalina como "o maior vazio" existente no estuário do Tejo e salientou a necessidade de os espaços expectantes da cidade serem pensados de uma forma "integrada nas realidades locais". "Temos de evitar os implantes, as obras dos arquitectos sozinhos", afirmou, defendendo que é no Barreiro que se encontra o vazio "mais amplo e onde é mais premente uma intervenção".
"Um modelo repetido até
à exaustão"
Por sua vez, o arquitecto Bruno Soares sublinhou que os projectos a implementar no estuário do Tejo não devem contemplar exclusivamente caminhos pedonais, pistas cicláveis, cafés e restaurantes, modelo que afirma estar a ser "reproduzido quase até à exaustão" em muitas frentes de água das regiões metropolitanas da Europa. O urbanista disse que estes são os conteúdos dominantes de praticamente todos os projectos desenvolvidos pelos 11 concelhos abrangidos pela APL para as suas zonas ribeirinhas e criticou a ausência de "uma visão de conjunto" entre os municípios.
Manuel Frasquilho defendeu a importância de acabar com "a indisciplina ou a indefinição do que se pode fazer em cada um dos espaços", classificando a realidade actualmente existente em alguns locais do estuário do Tejo como "uma manta de retalhos".
Como maus exemplos, o presidente da Administração do Porto de Lisboa apontou a interrupção "abrupta" da Avenida de Brasília na zona de Algés, que obriga à manutenção do viaduto existente no local, e o facto de a reconversão urbanística projectada pela Câmara de Lisboa para a zona de Alcântara não ter contemplado todo o Vale de Alcântara e não ter sido pensada com a participação da APL.
O seminário "O estuário do Tejo, reflexão sobre as suas frentes de água" continua hoje na Rocha do Conde de Óbidos, com a discussão da reconversão e modernização das áreas portuárias e das medidas de segurança nelas implementadas, dos projectos de reabilitação urbana das frentes de água e das novas formas de gestão do espaço estuarino.

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