João Paulo Santos apresenta o seu cocktail na Culturgest

O artista diz que desenvolveu no mastro chinês uma nova linguagem coreográfica

Peut-être, diz João Paulo Santos, significa leveza, fluidez, precisão, sentimento e uma poética aliada a uma técnica forte. Hoje e amanhã na Culturgest, em Lisboa, integrada na programação do Festival Temps d"Images (e dia 21 no Teatro Rivoli, no Porto), a performance, que é "uma experiência de vida", diz o artista, vai conjugar a arte circense e a música.O espectáculo é baseado no percurso de João Paulo Santos, numa lesão que o deixou parado durante dois anos e que o levou ao encontro de Guillaume Dutrieux, o outro elemento em palco. Um, acrobata de mastro chinês, o outro, músico trompetista de formação.
O artista acrobático, que emigrou para França em 1999 para desenvolver a sua formação em mastro chinês, regressa hoje para mostrar ao público português uma nova face do circo: "A imagem que o circo tem, em Portugal, é uma imagem de arte menor, degradante, viciada, não tem nada a ver com aquela imagem que eu vivo", diz.
O novo circo começou a desenvolver-se em França, a partir da década de 70, em resposta à crescente preocupação com os direitos dos animais e ao desinteresse do público pelo espectáculo tradicional. "A ideia é uma fusão de áreas", diz João Paulo Santos, "a música, a dança, a expressão dramática, tudo é permitido para servir uma história que pode ser explícita ou implícita".
Este projecto, que o artista descreve como "uma espécie de cocktail", apresenta também uma técnica circense ancestral, o mastro chinês, um mastro metálico de seis metros de altura que combina dança e acrobacia. João Paulo Santos, diz, foi pioneiro no desenvolvimento de uma "linguagem coreográfica". E explica porquê: "Os chineses tinham uma performance de mastro mais militar e física, eu transportei uma dimensão mais poética, com uma sensibilidade artística apurada."
O espectáculo chama-se Peut-Être porque "a história também é francesa". Mas aquilo que é mais importante para João Paulo Santos é a "dimensão humana" da performance. Embora exista sempre um "muro" a separar palco e público, "o meu cansaço físico é um gesto que humaniza as pessoas, que as torna mais próximas do espectáculo pelo lado humano, real."
Peut-Être, continua, não é fatalista, não tem pretensões, não reivindica nada. É apenas Peut-Être (Talvez), um momento que abre caminho ao sonho do artista de abrir uma escola de circo em Portugal. "Por enquanto, faz sentido viver a minha vida de artista, credibilizar e enriquecer a minha experiência, um dia mais tarde, o lógico será a transmissão de conhecimento."

Peut-Être
LISBOA Culturgest. Rua Arco do Cego. Tel.: 217905155.
Hoje e amanhã, às 21h30. Bilhetes a 15 euros.
PORTO Teatro Rivoli. Dia 21, às 21h30

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