Cultura catalã é tema da Feira do Livro de Frankfurt 2007

"Literatura catalã é a que se escreve em catalão", disse um político. "Sou um escritor europeu em língua catalã", disse Mesquida. O debate está relançado

O que impressiona edição após edição na Feira do Livro de Frankfurt? Presenciar a diversidade cultural que, se calhar, acontece aqui mais do que em qualquer lugar do mundo. As línguas e culturas mundiais estão espalhadas por pavilhões que demoram horas a percorrer."Aqui encontram-se, lado a lado, sem qualquer discriminação e como iguais as culturas dominantes e as mais pequenas e desconhecidas", disse ontem o director da feira, Juergen Boos, na apresentação do programa do convidado de 2007, que não será representado por um país: na 59.ª edição da feira, em Outubro de 2007, o convidado de honra é a Cultura Catalã. O mesmo já aconteceu no passado quando os convidados foram, por exemplo, o Mundo Árabe ou a Holanda e a Flandres.
Ontem também foi anunciado que o país convidado para 2008 é a Turquia e, especula-se sobre a China para 2009 - duas escolhas potencialmente controversas.

Catalão versus espanholA língua catalã é falada em Espanha, França, Andorra e algumas partes de Itália, e em termos de utilizadores é a sétima língua da União Europeia. "É a língua que, em primeiro lugar, nos facilita a identidade cultural. Proibir o seu uso é tentar destruir a identidade", disse Juergen Boos, para quem este programa tem um nível de qualidade como "nunca aconteceu" com nenhum convidado anterior.
A região da Catalunha, continuou, "sofreu isso durante a ditadura de Franco, mesmo em privado tinham de falar castelhano. Hoje tem lugar juntamente com a cultura galega, castelhana e basca. Mais de 1500 autores escrevem em catalão e um terço das editoras espanholas publica em catalão".
Ferran Mascarell, conselheiro da cultura da Generalitat de Catalunya, também na conferência de imprensa, sublinhou que "a literatura catalã é aquela que se escreve em catalão" e que "a literatura espanhola é a que se escreve em espanhol ou castelhano". Não quer que haja confusões. Realçou que a Feira do Livro de Frankfurt é sobretudo um ponto de encontro de editores e agentes literários, e não uma feira de escritores. Assegurou que apesar disso haverá uma delegação de escritores, académicos, tradutores e investigadores, mas os nomes só serão divulgados no Verão de 2007. Serão cerca de 200 convidados.
Biel Mesquida foi o único escritor na conferência de imprensa (porque ganhou o Prémio Nacional de Literatura este ano) e na sua apresentação sobre a literatura catalã disse que se considerava "um escritor catalão, ou melhor, um escritor europeu em língua catalã". Ficou clara a ausência da palavra "espanhol".
Falou-se de Ramon Llull (séc. XIII), Joanot Martorell, Mercè Rodoreda - clássicos da cultura catalã - mas também de novos autores como Quim Monzó, Carme Riera e Albert Sánchez-Piñol. Foi também referido que as editoras catalãs têm uma grande força no mundo editorial espanhol e que não publicam só obras em catalão. A previsão é de que haverá 250 expositores catalães e 1800 profissionais da indústria editorial catalã.
O destaque do programa vai para a exposição A Cultura Catalã Hoje, que ocupará o espaço Fórum (com 2500 metros quadrados, ocupados nesta edição pela Índia). Abordará três grandes temas: a cultura catalã hoje, mil anos de língua e a literatura catalã e a indústria editorial na Catalunha.
O programa do convidado de honra - que tem como directora Marifé Boix - inclui ainda debates e leituras feitas por escritores. O artista Perejaume irá fazer uma instalação que será colocada no recinto da feira e vão actuar os colles castelleres, que criam impressionantes torres humanas. Estão previstos concertos de Jordi Savall e da Capella Reial de Cataluya, e recitais de poesia com música com Maria del Mar Bonet e Miguel Poveda. Nas "Noites Sonar" haverá performances produzidas pelo festival Sonar com artistas catalães ligados ao design, gastronomia, música e multimédia. Vai ser publicada em alemão a obra clássica da literatura catalã Tirant Lo Blanc, de Joanot Martorell, e prepara-se uma encenação dirigida por Calixto Bieito. Por fim, os museus de Frankfurt vão ter exposições com obras de conhecidos artistas catalães.
O PÚBLICO viajou
a convite das edições ASA

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