A força da religião na política tem vindo a cair

Professor de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro deu uma breve entrevista telefónica ao PÚBLICO sobre a importância da religião na política no Brasil.

Qual é a importância que a religião vai ter nas eleições de domingo?Nas presidenciais, em princípio, a religião tem pouca importância. Houve uma época em que realmente os evangélicos eram muito fortes, e antes disso, até ao golpe de 1964, a Igreja Católica tinha muita força. Mas tem vindo a decair e agora já há menos. O que se pode registar de muito interessante em relação à religião nestas eleições é que há um recuo claro da tendência dos evangélicos rejeitarem Lula. É uma coisa curiosa, os evangélicos já não serem anti-Lula.
A par dessa tendência, analistas dizem que há uma transferência de votos católicos progressistas para Heloísa Helena. Concorda?
Isso parece de facto acontecer, embora seja difícil aferir a dimensão dessa passagem. De qualquer modo, as presidenciais são as eleições que a Igreja Católica e os evangélicos menos podem influenciar. Enfim, se houvesse um caso de empate pode haver alguma diferença. Mas há sempre um risco quando os evangélicos começam a ter muito poder de cisão social, porque eles tendem a ser muito intolerantes com outras religiões, como os cultos afro-brasileiros, o candomblé. Tratam isso como "coisas do demónio". E isso divide muito a sociedade.
Existe uma bancada evangélica no Parlamento. Qual o seu papel?
Essa bancada defende interesses próprios, que são, no essencial, dois: tentar ter pouca tributação nos seus rendimentos e no plano mundial evitar leis que regulem o volume de som, por causa dos comícios. Quase parece uma piada, mas é verdade. De resto, os evangélicos são muito fortes por exemplo no Rio de Janeiro, onde um candidato evangélico é à partida um candidato forte. Mas no resto do país são sempre a minoria. M.J.G.

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