Empresários elogiam reclusas de Santa Cruz do Bispo

Cerca de 130 presas trabalham naquele estabelecimento prisional - 48 prestam serviços internos e à volta de 80 cumprem tarefas para empresas externas. Ganham pouco

Cerca de 130 reclusas do Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, têm uma ocupação laboral, ainda que precária. Responsáveis de cinco empresas elogiaram, há dias, a qualidade do trabalho desenvolvido por elas.Para enganar o tempo, o grosso das reclusas prefere trabalhar. Dedicam-se à confecção e ao calçado, sobretudo. Mas também há quem alinhe em finalizar equipamentos para automóveis. E quem se empenhe na papelaria, na limpeza, na cozinha ou na jardinagem.
O dia começa cedo em Santa Cruz do Bispo. As celas abrem às 7h30. É depois do pequeno-almoço e da distribuição da medicação que muitas reclusas avançam para o trabalho. Por maior que seja a vontade, as tarefas oficinais têm de ser postas de lado às 17h00. É que o jantar é servido às 18h00 e as celas fecham às 19h00.
Numa apresentação a empresários feita na Associação Empresarial de Portugal (AEP), em Leça da Palmeira, Matosinhos, responsáveis da Diel Enco (elastómeros para automóveis), da The Pazo (alta costura), da Ambar (papelaria), Confetil (confecções) e da F-Moda (confecções) recomendaram aos seus colegas a contratação de reclusas.
"Foi um espanto. Logo depois da primeira semana coloquei aqui máquinas para elas fazerem tudo, desde o corte até à embalagem. São pessoas muito acessíveis", exprimiu Ana Paula Sousa, da The Pazo. Referia-se às nove costureiras que ali emprega. As encomendas já são expedidas directamente da cadeia para os clientes. Nem precisam de passar pela fábrica da empresa, instalada nos Carvalhos, em Vila Nova de Gaia.
"O trabalho é melhor do que lá fora. São mais empenhadas. É um grupo espectacular", salientou Carla Sousa, gestora da linha de produção montada, em Fevereiro, pela The Pazo no estabelecimento prisional. E é bem mais barato.
Ao todo, 18 empresas já utilizaram o trabalho das reclusas (algumas fazem-no em permanência). Pagam-lhes à peça ou à tarefa. O salário é variável, mas, sempre, sempre, reduzido. Por maior que seja o esforço, raramente ultrapassa os cem euros.
As cerca de 80 reclusas que, em média, trabalham na área das oficinas têm um vencimento médio mensal de 60 euros. A grande excepção a esta magra contabilidade? Já houve uma mulher que conseguiu ganhar 357 euros num mês.
Para além do trabalho externo, trazido pelas várias empresas, há o trabalho interno. Quarenta e oito mulheres prestam serviço nos diversos sectores da cadeia (como a cozinha, a limpeza, a lavandaria, o cabeleireiro ou o minimercado). Segundo a responsável pelo projecto laboral naquela prisão de mulheres, Catarina Rocchi, auferem um vencimento-base de 3,40 euros por dia. No máximo, ganham 200 euros por mês.
O pouco dinheiro tem de ser gerido com critério imposto. Um quarto fica num fundo de reserva (para ser usado quando a liberdade chegar), o resto é gasto em telefone, higiene, tabaco e outros produtos de uso corrente.
Não obstante o fraco rendimento, a directora do estabelecimento prisional, Elisabete Ferreira Dias, destacou a importância que este projecto inédito de trabalho em meio prisional tem para a reinserção social e profissional das reclusas. "Uma reclusa que está prestes a sair vai continuar a trabalhar na empresa para quem trabalha aqui", acredita.
Na opinião do subdirector-geral dos Serviços Prisionais, Nuno Corte-Real, o projecto de Santa Cruz do Bispo é "verdadeiramente essencial". Santa Cruz do Bispo ensaia um modelo de gestão partilhada (Direcção-Geral dos Serviços Prisionais e Santa Casa da Misericórdia do Porto). E "há possibilidade de repetir esta experiência" laboral noutras cadeias. Será uma cadeia masculina, mas ainda não se sabe qual. Com Lusa

Sugerir correcção