Misericórdia de Espinho compra parte das instalações da Fosforeira Portuguesa

Negócio envolve 1,85 milhões de euros e visa a criação de um centro de internamento para doentes de Alzheimer

A Santa Casa da Misericórdia de Espinho prepara-se para adquirir a antiga creche e refeitório da Fosforeira Portuguesa - a única empresa que fabrica fósforos em território nacional -, bem como todo o quarteirão que engloba o espaço envolvente aos equipamentos desactivados. Ao todo, são cerca de oito mil metros quadrados numa zona nobre da cidade espinhense. Um investimento que custará aos cofres da instituição cerca de 1,85 milhões de euros. A formalização desta compra deverá acontecer até ao final do próximo mês. O provedor da Misericórdia espinhense, Amadeu Morais, revela que esta aquisição vem colocar em andamento um projecto há muito ambicionado pela instituição que, neste momento, celebra o seu 69º aniversário. "A ideia é criar um centro de dia e de internamento para doentes de Alzheimer", adianta, lembrando que, no Norte do país, há falta de infra-estruturas que se dediquem a internar quem padeça dessa doença degenerativa. Os contactos com a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro deverão arrancar já no início de Setembro, para que se decida, em concreto, o futuro das antigas estruturas da Fosforeira.
Segundo Amadeu Morais, o destino a dar às instalações da unidade fabril dependerá do que a ARS-Centro decidir. "Pode fazer-se um centro de apoio aos doentes de Alzheimer à escala de Espinho ou uma estrutura que dê resposta, nessa área, à Grande Área Metropolitana do Porto". No primeiro caso, o responsável garante que "a Misericórdia está em condições de avançar e de suportar os encargos". Na segunda hipótese, serão necessários mais apoios e formalizar intenções através de um protocolo. A lotação da estrutura será um dos aspectos a definir, mediante a decisão que será tomada.
A área a adquirir pela Misericórdia espinhense permite construção e, portanto, a possibilidade de se avançar com a criação de outros serviços de cariz social está também em cima da mesa. Embora não tenha sido realizado um estudo técnico aprofundado aos equipamentos da Fosforeira, a Santa Casa espinhense acredita que é possível implementar um espaço de apoio aos doentes de Alzheimer - eventualmente não mexendo no espaço exterior, aproveitando-o como um local de estar ao ar livre para os residentes.

Fachada salvaguardadaA instituição compromete-se a manter a traça original do prédio da empresa, com 80 anos de existência. Até porque se trata de "um edifício com um passado, e muito bonito do ponto de vista arquitectónico", sublinha o provedor. As características do espaço serão, portanto, salvaguardadas. Contactada pelo PÚBLICO, a ARS-Centro informou que prefere aguardar pela apresentação do projecto da Misericórdia de Espinho, para então prestar declarações sobre o assunto.
O destino dos cerca de 30 trabalhadores da Fosforeira Portuguesa de Espinho poderá ser decidido no dia 5 de Setembro. Altura em que a totalidade dos funcionários está ao serviço e dia em que é esperada uma resposta por parte da empresa, de administração espanhola, que tenciona vender a fábrica ao actual director de produção.
A proposta entretanto apresentada por este responsável não agradou à classe operária. A ideia de usar as indemnizações para criar um novo equipamento industrial originou recentemente um protesto à porta das instalações, em pleno período de férias. A comissão de trabalhadores critica a posição do possível comprador em querer aproveitar-se do dinheiro que pertence aos funcionários. Se não houver uma posição que satisfaça, os funcionários equacionam pedir audiências ao Presidente da República, aos ministros da Economia e do Trabalho, bem como realizar uma manifestação à porta da Câmara de Espinho.
O calendário marcava o ano de 1926. Há 80 anos, um empresário espanhol encontrava um sócio português, Caeiro da Mata, numa altura em que Salazar impedia a entrada de capital estrangeiro no país, para implementar uma unidade fabril. E assim nascia uma das maiores produtoras de fósforos em território nacional. Actualmente, é única na Península Ibérica. A Fosforeira Portuguesa entrava no mercado e assegurava serviços de luxo aos seus funcionários. Na altura, os proprietários criavam uma creche para os filhos dos operários, com acesso gratuito até à idade escolar, abriam uma cantina de luxo, instalavam um serviço de medicina no trabalho. Estruturas que acabaram por ser desactivadas com o passar do tempo.

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