Quadro de Mary Stuart autenticado é ícone da resistência católica na Grã-Bretanha

Pintura era considerada cópia desde 1916 mas testes recentes revelaram que data do século XVI. Está agora exposta na National Gallery, em Londres

O quadro da rainha da Escócia Mary Stuart, recentemente descoberto como verdadeiro, pode ter sido um emblema para os apoiantes da rainha, como uma exaltação da sua condição de mártir católica. A obra é ainda um dos dois únicos retratos feitos da rainha durante a sua vida (1542-1587). "Pode ter sido um emblema para um dos seus apoiantes, ou uma comemoração do seu martírio", disse ao Guardian Tanya Cooper, curadora da National Portrait Gallery, em Londres, onde o retrato está agora exposto. Controversa, Mary Stuart era considerada a líder da resistência católica contra a Inglaterra protestante, o que levou à sua execução em 1587 por ordem da sua prima, a rainha Isabel I. A maioria dos retratos de Mary Stuart foram pintados após a sua morte, durante o reinado do seu filho Jaime I, quando o estatuto de mãe de um monarca lhe deu credibilidade. É isso que distingue a obra da National Gallery.
Os testes realizados na pintura, que retrata Mary de regresso à Escócia após a morte do seu primeiro marido, Francisco II, mostram que foi feita ainda durante a sua vida - tornando-a na única de duas obras a retratar a rainha viva. O outro quadro mostra Mary de luto pelo seu genro Henri II, de França.
A rainha da Escócia - também rainha da França durante 18 meses, devido ao seu primeiro casamento - teve uma vida atribulada. Dois dos seus três casamentos foram extremamente impopulares - o segundo com Lord Darnley e o terceiro com James Hepburn - e Mary foi forçada a abdicar do trono em 1567, a favor do filho. Fugiu depois para Inglaterra, onde foi feita prisioneira durante os últimos 19 anos da sua vida.
Aos olhos de Isabel I, a ameaça católica representada por Mary Stuart, sua herdeira, tinha-a tornado num problema moral, legal e político para a Inglaterra.
Muito possivelmente, o quadro foi pintado nesse período: "É fascinante que este retrato possa ter sido pintado durante o período em que Mary esteve presa", disse Tanya Cooper. E pode ter sido guardado como um ícone secreto de resistência pelos ingleses católicos, que sobreviviam numa Inglaterra protestante, uma vez que a casa real britânica nunca iria expô-lo.
A obra estava no arquivo da National Gallery desde 1916, data da sua compra, porque se pensava que era uma cópia do século XVIII. Foi Tanya Cooper que, seguindo o seu instinto, resolveu estudá-la com a máquina de raios-X.
As investigações revelaram que o quadro tinha sido repintado com tinta castanha, provavelmente nos séculos XVIII ou XIX, para se adequar a um conjunto de retratos feitos em França, sobre os reis e rainhas europeus. Os investigadores da National Gallery recorreram ainda à dendrocronologia, uma técnica que revela a idade de uma árvore pelo grão da madeira. O teste confirmou que o painel onde a obra foi pintada data do período entre 1560 e 1592. Outra prova da sua autenticidade foi a descoberta de um pigmento apenas usado até ao século XVI.
O quadro foi depois restaurado durante um ano para voltar ao seu aspecto original. "Foi muito bem pintado, especialmente em torno dos olhos", disse Tanya Cooper. "Desde que foi restaurado podemos ver que ela tem um olhar muito penetrante. A roupa e as pérolas foram pintadas com competência."
Este tipo de técnicas são usadas há apenas dois ou três anos na National Gallery. "À medida que fazemos mais testes irão surgir muitas mais surpresas", disse a curadora.

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