ENER 1000, o computador pessoal português criado na Universidade de Coimbra

Este projecto não vingou, mas entrou para a história da informática portuguesa, e ainda se venderam dezenas de unidades

Chamou-se ENER 1000 e foi um computador pessoal português criado na mesma altura do PC da IBM. Ficou pronto em Setembro de 1981, mas só um ano depois foi apresentado. Começou a ser produzido pela empresa Enertrónica numa fábrica na Figueira da Foz, e até vendeu várias dezenas de unidades."Havia ainda a ideia de que cada país devia ter a sua máquina, até para as escolas", explica Eduardo Beira, do departamento de sistemas de informação da Universidade do Minho. Mas essa ideia começava a ser contrariada por uma outra, bem mais eficaz: a de um mercado global de computadores pessoais.
Como máquina, o "PC português" era uma caixa de 50 centímetros de largura e 15 de altura, com capacidade para se ligarem oito placas à motherboard. Integrava duas unidades das velhas disquetes de cinco polegadas, tinha 128 kilobytes de memória e podia funcionar como máquina central à qual se ligavam até quatro utilizadores.
A 15 de Fevereiro de 1983, o editorial da revista Cérebro considerava que o primeiro microcomputador português vinha "preencher uma lacuna na produção nacional" e representava "um acto de pioneirismo" que iria dignificar a indústria portuguesa.
Mas a ENER 1000 foi uma experiência que correu mal, "porque produzir computadores exigia um treino que a Enertrónica não tinha", adianta Eduardo Beira. Foi, contudo, "uma tentativa curiosa."
Tanto o foi que terá despertado o interesse da norte-americana Timex, fabricante de computadores para uso pessoal. Entre eles estavam os Spectrum, por exemplo, que na década de 80 eram a coqueluche ou a ambição de muita gente jovem. Havia dezenas de jogos para esta máquina, e claro que não faltava quem gostasse de jogar.
Muitas máquinas da Timex foram produzidas na Costa da Caparica, junto a Lisboa, onde a empresa norte-americana instalara uma fábrica. Eduardo Beira salienta na sua obra Protagonistas da Informática em Portugal que aí chegaram a ser produzidos sete a dez mil computadores por dia. I.G.S.

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