"Olival da CEE" pode levar à extinção de oliveiras centenárias

Os agricultores espanhóis proprietários de explorações no Alentejo estão a substituir árvores centenárias por novos olivais, uma prática subsidiada pela União Europeia que no limite pode levar à extinção dos espécimes mais antigos. Mas também há na região quem combata esta tendência, como um agricultor de Moura que só à sua conta já salvou do fogo cerca de dez mil oliveiras, algumas com 800 anos, que agora embelezam campos de golfe no Algarve e jardins em França

Na freguesia de Póvoa de S. Miguel, concelho de Moura, a poucas centenas de metros da albufeira de Alqueva, foi recentemente instalado um viveiro de oliveiras oriundas de explorações onde árvores centenárias deram lugar ao "olival da CEE", designação local que identifica as plantações feitas por agricultores espanhóis.Foi a alternativa descortinada por Paulo Tiago, proprietário do viveiro, para salvar do fogo milhares de árvores com centenas de anos e assegurar ao mesmo tempo a sua própria sobrevivência, depois de ter passado por uma exploração sem viabilidade financeira. Com esta iniciativa, o empresário já transplantou para parques e jardins públicos e privados em França e na região de Lisboa, mas sobretudo para campos de golfe no Algarve, cerca de 6500 oliveiras.
Os arquitectos e engenheiros paisagistas "têm sido os meus maiores aliados" na consolidação da empresa, ao exigirem nos projectos que elaboram árvores adultas, refere Paulo Tiago. Há seis anos que tenta manter "sem ajuda de ninguém"o seu viveiro de árvores transplantadas, acima de tudo por gostar natureza. "Faz-me pena ver reduzidas a lenha espécies centenárias", na sua esmagadora maioria provenientes das explorações agrícolas adquiridas por agricultores espanhóis.
Depois de várias peripécias burocráticas para obter o licenciamento, há pouco tempo conseguiu finalmente instalar o seu viveiro, onde tem cerca de 3.400 oliveiras, algumas laranjeiras e romãzeiras, que recolheu de várias explorações agrícolas "limpas" para plantio de novos olivais.

Negócio de milhõesQuem circula na estrada municipal que liga Póvoa de S. Miguel a Mourão pode observar, alinhadas dos dois lados da via e ao longo de centenas de metros, milhares de oliveiras com idades entre os 100 e os 800 anos. Depois de transplantadas do seu local de origem, as árvores são colocadas numa vala com alguma profundidade e fertilizadas com uma espécie de estrume formado apenas por folhagem de azeitona recolhida nas cooperativas produtoras de azeite da região.
Só no mês de Junho, foram enviadas cerca de quatro mil árvores para vários campos de golfe algarvios, urbanizações em Oeiras e para França. Desde que iniciou o negócio, Paulo Tiago já recuperou cerca de dez mil árvores, na sua esmagadora maioria oliveiras. "Só dois clientes no Algarve levaram 5.300", conta.
O agricultor lamenta ainda assim a falta de meios, que o impediu, por exemplo, de chegar a tempo de salvar uma oliveira com mais de mil anos que foi buscar a Serpa. "Para evitar a sua destruição, pedi que a poupassem que eu me comprometeria a ir buscá-la", explica Paulo Tiago. Mas como era um exemplar de grande porte - pesava à volta de tonelada e meia -, só com equipamento adequado podia movimentá-la. E quando o equipamento chegou, a árvore já estava morta. Mesmo assim está colocada junto à entrada principal do viveiro, " para que todos possam aperceber-se do que significa sacrificar árvores mais velhas que Portugal".
Paulo Tiago já movimentou com o seu negócio à volta de 100 mil euros. O seu preço varia entre os 50 euros para árvores com 40 centímetros de diâmetro no caule e os 3000 euros para os exemplares de grande porte, com um diâmetro entre os cinco e os seis metros.
O agricultor adverte ainda para o negócio que está a ser feito em Espanha com o transplante de árvores de montado. O custo de um sobreiro transplantado ascende aos 24 mil euros e há cada vez mais gente interessada em obter este tipo de árvores autóctones nos mais diversos países da Europa.

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