Candidato da esquerda a Presidente paralisa Cidade do México

Andres Lopez Obrador apelou à desobediência civil até ser feita
a recontagem total
dos votos das eleições

Mais de meio milhão de manifestantes estrangularam ontem a capital mexicana, provocando o caos no centro financeiro e empresarial do país, num gesto inequívoco de apoio à exigência do candidato de esquerda Andres Lopez Obrador para que seja feita uma recontagem total dos votos das eleições presidenciais realizadas a 2 de Julho passado.Os manifestantes começaram a congregar logo durante a noite anterior, montando tendas em toda a extensão da praça de Zocalo e ao longo de mais de dez quilómetros da larguíssima avenida Reforma, onde se localiza a bolsa de valores mexicana assim como muitíssimos hotéis de luxo, vários edifícios de gabinetes públicos, as sedes das maiores empresas a operar no país e ainda a embaixada norte-americana na Cidade do México.
Os efeitos daquela manobra para sitiar a capital começou a sentir-se às primeiras horas da manhã na capital, onde Obrador foi presidente da Câmara até ao ano passado antes de se candidatar às presidenciais do país, e onde o seu partido - o Partido da Revolução Democrática - mantém controlo firme tanto da polícia como das autoridades locais. O trânsito ficou cortado em toda a área ocupada pelos manifestantes, estrangulando por completo a circulação automóvel da gigantesca cidade, que conta com uma população de cerca de 22 milhões de habitantes.

"Luta necessária"Lopez Obrador pediu desculpa aos mexicanos que não partilham a ideia - por ele próprio vigorosamente defendida - de que a vitória eleitoral lhe foi roubada, alegação que não foi consubstanciada pelos observadores da União Europeia.
O principal candidato da esquerda mexicana perdeu, de acordo com os resultados oficiais, por uma pequena margem de 0,6 pontos percentuais (244 mil votos) para Felipe Calderon, o candidato do partido conservador, actualmente no poder no México. Obrador defendeu, porém, que esta campanha de desobediência civil, que está a mergulhar o México numa profunda crise política, irá "salvar a jovem democracia" do país.
"Espero que um dia nos compreendam e que compreendam que esta luta é necessária, não apenas para nós mas para todos", disse Obrador às várias centenas de milhares de pessoas. Testemunhos colhidos entre os manifestantes pela Reuters, davam conta de que estes actos de protesto tenderão a manter-se, até mesmo a agudizar-se, até que o Supremo Tribunal eleitoral mexicano venha diferir o pedido de recontagem total dos votos feito pelo candidato da esquerda.
"Se não nos ouvirem fechamos a cidade", garantiu uma das manifestantes, Magdalena Salazar, uma mulher de meia-idade, àquela agência, referindo-se aos sete juízes que deverão decidir, até ao final deste mês, se serão reabertas apenas algumas ou todas as urnas eleitorais.

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