Da Madeira ao Campo Pequeno, o "império" do empresário Jorge Sá

Há cinco décadas ligado ao comércio, o empresário, que acaba de abrir o primeiro supermercado no continente, lidera um grupo que emprega 1.300 trabalhadores e factura 125 milhões de euros

Crescer cinco por cento em 2006, face aos 125 milhões de euros registados no ano passado, é o objectivo do grupo madeirense Sá, que conta para o efeito com a ajuda do primeiro supermercado em Portugal continental, nas Galerias do Campo Pequeno, em Lisboa."O nosso objectivo não é entrar em guerra com as outras empresas do ramo alimentar no continente, mas essencialmente divulgar produtos da nossa marca e de origem regional junto de novos consumidores ", revelou Jorge de Sá, presentemente o maior empresário deste sector na Madeira.
Há cinco décadas ligado ao comércio, Jorge de Sá lidera um grupo de empresas exclusivamente familiar e emprega 1.300 trabalhadores. O primeiro passo foi dado a 6 de Janeiro de 1956, na mais movimentada rua comercial da baixa funchalense, com a abertura da Pérola dos Cafés, um espaço de venda tradicional, particularmente procurado pela aposta forte feita em três produtos: o café, o arroz e o bacalhau.
Aliás, o grande salto do empresário, depois do lançamento de uma rede de torrefacção do café praticamente sem concorrência no mercado madeirense, foi dado com a comercialização do "fiel amigo" na Madeira e, sobretudo, com a sua exportação para o Continente, quando passou a ser uma presença menos assídua nas mesas portuguesas, na segunda metade da década de 70.
A escassez de divisas registada no período pós-revolucionário, levou o governo a tomar medidas restritivas no âmbito da importação de certos produtos. Mas, ao contrário do que acontecia no Continente e nos Açores, onde também se levantaram dificuldades para a importação do bacalhau proveniente da Noruega, com as respectivas autorizações a depender de Lisboa, na Madeira estas eram passadas pelo governo regional que não colocava obstáculos a esta saída de divisas.
Jorge de Sá aproveitou tal facilidade para fazer proliferar o negócio, grossista e a retalho, chegando a ser responsável por quase metade do bacalhau entrado na ilha e revendido para o continente. Nessa época, entrou bem no olfacto dos passageiros que viajavam na TAP, entre o Funchal e Lisboa, o característico cheiro daquele peixe voraz adquirido em abundância pelos "cubanos" que regressavam ao "rectângulo", depois de umas férias no destino então mais acessível.
Passados 30 anos sobre este período de fulgor para o até então pequeno comerciante, Jorge de Sá passou agora a comercializar directamente em Lisboa, na nova Galeria Comercial do Campo Pequeno, cerca de 600 referências da sua própria marca no primeiro hipermercado que abriu fora da Madeira. Nas prateleiras da nova unidade, além do seu Café Diamante, único existente na Madeira e preparado em exclusivo no Funchal, estarão expostos os tradicionais produtos madeirenses, desde o bolo-de-mel aos vinhos e frutos insulares. "Os continentais apreciam muito os nossos produtos", frisa o empresário que lembra ainda a existência de cerca de 100 mil madeirenses na área de Lisboa, "com saudades da espada e do milho frito".

A carteira de negóciosA abertura do hipermercado no Campo Pequeno acontece 20 anos depois de Sá ter inaugurado o seu primeiro supermercado no Funchal, na Rua do Seminário, a poucos metros do emblemático Mercado dos Lavradores, uma inevitável atracção turística pelas diversificadas cores e aromas das flores e produtos agrícolas regionais. "O grupo está sempre a pensar na expansão, apoiado pela qualidade dos nossos serviços", revela Jorge de Sá.
Beneficiando de legislação regional que condicionou a entrada de grupos exteriores com a limitação de áreas comerciais, o empresário, agraciado por Ramalho Eanes em 1981, dispõe hoje de 17 lojas de três formatos (hiper, super e mini-Sá) espalhados pelo arquipélago. Paralelamente à distribuição alimentar e torrefacção de café, apostou ainda na diversificação dos negócios que, incluindo o Império das Louças, abrangem restauração e cafetaria, ourivesarias e superfícies comerciais, como o ex-libris funchalense Bazar do Povo, na prática o primeiro centro comercial datado de 1883, e o Camacha Shopping onde se destaca o Cine Camacha e o Camacha Bowling. Em simultâneo com o processo de expansão de supermercados pela ilha, entrou igualmente no negócio imobiliário, criando as sociedades Travessa da Malta e Moapel Imobiliária, com investimentos no núcleo histórico do Funchal.
Concretizando uma nova incursão no sector turístico, adquiriu na ilha de São Miguel, nos Açores, Monte Palace, ainda encerrado, e o Hotel Bahia Palace, mais um dos motivos de interesse deste grupo, envolvido pelas belezas naturais e com acesso directo à magnífica baía de Água d"Alto.

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