Fecho de quartel acaba com quatro séculos de história militar em Elvas

"Militares estão para Elvas como os estudantes para Coimbra", lamenta presidente da câmara

O Regimento de Infantaria (RI) n.º 8 de Elvas, a mais antiga unidade de aquartelamento de tropas em Portugal, fechou ontem as portas. Com o RI encerra também um capítulo da história do Exército português, já que foi em Elvas que nasceu primeiro terço militar, em 1641, e o primeiro RI, em 1763. O distrito de Portalegre ficou sem representação militar e o espaço, situado junto às muralhas seiscentistas de Elvas, vai ser transformado em museu militar, a bem de que não sejam esquecidos quase quatro séculos de presença militar.
A decisão do ministro da Defesa, Luís Amado, em fechar o RI 8, uma medida que se insere no processo de reestruturação do Exército, não passou indiferente ao presidente da Câmara de Elvas, o socialista Rondão Almeida.
"Algum quartel que fosse o último a fechar seria o de Elvas, à semelhança do que aconteceria se se quisesse fazer reestruturação do ensino superior, a última universidade a fechar seria a de Coimbra", lamenta o autarca.
"Os militares estão para Elvas, como os estudantes para Coimbra", resume Rondão Almeida.
A nova lei orgânica do Exército, que determina o encerramento das actuais regiões militares do Norte, Sul e Lisboa, bem como dos quartéis de Santarém, Elvas, Trafaria e Figueira da Foz, foi aprovada em Conselho de Ministros a 23 de Fevereiro passado.
O objectivo, segundo o Governo, é tornar o Exército "cada vez mais operacional e flexível".
Os cerca de 40 hectares do quartel elvense darão lugar a um museu militar dedicado à Guerra do Ultramar, que se espera inaugurar em Janeiro de 2008. Segundo Rondão Almeida, o espólio militar referente à guerra colonial disperso pelo país será concentrado nas instalações de Elvas.
O autarca diz que ainda está para perceber as razões técnicas que levaram ao encerramento do RI 8, "um centro de instrução auto num quartel que reúne todas e excelentes condições" para os militares.
"O berço dos militares é Elvas. Elvas foi o primeiro quartel feito em Portugal para defender a nação". Num recuo ao dia 14 de Janeiro de 1659, data em que se comemora a Batalha das Linhas de Elvas, que pôs termo à Guerra da Restauração, Rondão Almeida explica que aquele foi o dia em que os elvenses "correram com os espanhóis, impedindo que chegassem a Lisboa".
"Sou contra o encerramento de qualquer serviço no interior do país, assim não faz sentir quererem abolir as simetrias entre o interior e o litoral", explica.
Os 95 militares do RI 8 - entre oficiais, sargentos e praças - serão transferidos para outras unidades ou integrados nos quadros do futuro museu. O segundo comandante do RI 8, Jorge Iglésias, explicou que 18 deles vão ser transferidos para o Regimento de Cavalaria n.º 3, em Estremoz.
"Os elementos da comissão liquidatária, presidida pelo actual comandante da unidade, coronel Jorge Conde Rendeiro, e os restantes militares integrarão os quadros do futuro museu", acrescentou.
O último Dia da Unidade celebrado a 21 Julho - data em que se comemora a Batalha da Vitória, travada em território espanhol, em 1813, aquando das invasões napoleónicas, onde o Exército de Elvas participou saindo vitorioso - foi, segundo Rondão Almeida, como um "funeral", onde nunca se viu tanto elvense a chorar. "Elvas sempre foi uma cidade com grande densidade militar, patente na própria arquitectura das suas casas, basta andar pelas ruas", diz, por seu turno, Jorge Iglésias.

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