O mundo em três lições de Flatland

A peça composta por três episódios faz parte do conjunto de espectáculos reunidos pelo Alkantara, que enche a capital de teatro e dança até 18 de Junho

E se um dia descobrisse que lhe faltava uma dimensão? Ia achar no mínimo estranho, não? É com estas perguntas que Patrícia Portela apresenta a sua trilogia Flatland, que hoje, a partir das 20h, toma conta da sala de ensaio do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.Apesar da sua formação ser em cenografia, em Flatland Patrícia Portela entra por terrenos desconhecidos e explora o "mundo da dimensionalidade e das perspectivas" espaciais.
Uma das suas fontes de inspiração foi a obra homónima de Edwin Abbott Abbott, uma sátira à sociedade vitoriana. Este romance do século XIX, retrata um mundo bidimensional, onde os homens são descritos como polígonos, cuja classe social é proporcional ao número de lados que têm, e em que as mulheres são vistas como linhas.
A história da perspectiva e a obra de literatura árabe Mil e uma Noites, foram outros dos pontos de referência a partir dos quais se lançou na recriação de dimensões.
Com o desejo de que "tudo esteja interligado, que o espaço e o tempo sejam a mesma coisa", a cenógrafa e dramaturga que nasceu em 1974 teve um cuidado especial com o cenário da peça, vício da sua formação inicial (fez o curso de Realização Plástica do Espectáculo).
"Procurei o objecto ideal para cada espaço, queria que estivesse tudo entrosado", acrescenta Portela.
Criado para
vários formatos
Depois de uma passagem pelo Teatro Nacional, Patrícia Portela começou a participar em projectos independentes - trabalhou com o Teatro da Garagem - e teve uma incursão pelo cinema, como cenógrafa, com Pedro Sena Nunes em Cacilheiro.
Flatland, um espectáculo multimédia dividido em três módulos, não foi, inicialmente, pensado com o propósito de acabar em teatro: "Comecei por escrever ensaios sobre o tema, depois teve formato de conferência, depois de labirinto e então senti necessidade de o transpor para episódios."
O processo teve início em 2002, tendo estreado um episódio por ano - o último era para estrear ainda em 2005, mas acabou por só ser mostrado em Fevereiro.
Em Flatland I - Para cima e não para norte, o Homem Plano, personagem a quem falta uma dimensão, descobre que só consegue existir no mundo tridimensional se os espectadores olharem para ele. Esta primeira parte ganhou o Prémio ACARTE / Maria Madalena de Azeredo Perdigão, em 2004.
Flatland II - Ser é ser visto, aborda o terrorismo e a sua relação com o teatro. Neste episódio o Homem Plano lidera uma viagem pelo mundo da ilusão rodeado de câmaras de vigilância, espelhos retrovisores e projecções em tempo real.
A última parte da trilogia, Flatland III - Baseado numa história verdadeira, o personagem regressa a casa, apesar de a sua busca pela realidade ainda não se encontrar terminada, lançando-se na tarefa de construir uma "máquina dos factos".
Os Irmã Lúcia, nos efeitos especiais, o actor Anton Skrzypiciel, Leonardo Simões e Christoph de Boeck fazem parte da equipa que conseguiu erguer este projecto. "As colaborações continuaram ao longo destes anos", disse Portela, acrescentando que "cada um deles trabalha numa área muito específica".

Flatland Triologia Projecto de Patrícia Portela
LISBOA Centro Cultural de Belém - sala de ensaio. Pç. Do Império. Tel.: 213612400. Hoje às 20h, até 14 de Junho. Bilhetes a 10 euros.

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