Rocío Jurado Calou-se a voz "mais grande" de Espanha

Os espanhóis chamavam-lhe la más grande. Durante 40 anos, foi um símbolo da música latina. Morreu na quinta-feira, aos 61 anos

Foi uma despedida emocionada em Chipiona, perto de Cádis, na Andaluzia. Mais de 22 mil pessoas visitaram a artista em câmara-ardente e acompanharam o enterro de uma personalidade única na música espanhola. Se fosse preciso qualquer termo de comparação, bastaria dizer que Rocío Jurado está para Espanha como Amália Rodrigues está para Portugal.Pelo funeral passaram algumas das maiores personalidades espanholas. Júlio Iglesias, Sara Montiel e Pedro Almodóvar, entre tantos outros, fizeram questão de estar no adeus a uma amiga que foi também um símbolo da cultura espanhola. O realizador disse mesmo que Jurado era uma força da natureza. "As mulheres como ela não morrem", disse emocionado o autor de Volver. O rei Juan Carlos não deixou de prestar as condolências por telefone, e o primeiro-ministro José Luis Zapatero juntou-se ao líder da oposição, Mariano Rajoy, para expressarem em conjunto o enorme sentimento de perda do povo espanhol. Na impossibilidade de a ministra da Cultura se deslocar a Chipiona - estava a ser submetida a uma operação cirúrgica -, o Governo espanhol fez-se representar pela ministra da Economia, Magdalena Álvarez.
Na missa que antecedeu o enterro, o bispo de Jerez de la Frontera resumiu a vida e a carreira de Rocío numa só frase. "Calou-se a voz de Espanha e da Andaluzia, que amou e cantou durante toda a vida", disse diante de milhares de pessoas que testemunhavam o último adeus a Rocío Jurado.
Em toda a Espanha as homenagens multiplicaram-se. Nas praças de touros houve um minuto de silêncio em homenagem à diva espanhola. As rádios, a televisão e a imprensa destacaram uma artista que consideraram "única" na história do país. Mas eram os admiradores anónimos, os fãs de uma vida, que se mostravam mais emocionados pelo desaparecimento da cantora. Para eles, calou-se mais do que uma voz única. Perdeu-se parte da alma de Espanha.

Uma vida de sucessosUma longa carreira de 40 anos provou, vezes sem conta, que o talento de Rocío Jurado não tinha igual no espectro cultural espanhol. E não foi uma carreira que se resumiu à música. Nos anos 60, ao mesmo tempo que se afirmava como uma das mais populares intérpretes de flamenco, a artista começou uma carreira no cinema que durou três décadas. Desde Los Guerrileros, em 1962, até A Lola Se Va a Todos os Puertos, em 1993, foram nove os filmes que protagonizou, todos eles sucessos junto do público espanhol que a acariciava como a uma diva. Mas a sua popularidade não se resumia a Espanha. Rocío Jurado foi igualmente uma das vozes mais aclamadas da América Latina, tendo trabalhado com compositores e cantores de países como a Argentina, o México ou o Chile. Uma figura consensual em todo o mundo hispânico, a cantora foi uma das artistas espanholas que mais facilmente exportaram o seu trabalho para o exterior, em especial para a América Latina. Rapidamente consagrada como figura pública, Rocía Jurado tornou-se numa das mulheres mais fotografadas de Espanha. Talvez por isso as suas relações amorosas tenham estado sempre em destaque. O seu primeiro casamento com o boxeur Pedro Carrasco acabou em divórcio anos depois. Seguiu-se uma relação com o toureiro José Cano, com quem adoptou dois filhos, e que deixa viúvo. Do seu primeiro casamento já tinha nascido uma filha.

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