Greve geral "por tempo indefinido" contra o poder absoluto do rei do Nepal

Recolher obrigatório imposto na capital, pelo terceiro dia consecutivo. Rebeldes maoístas aderem à paralisação

O Governo do Nepal impôs ontem, pelo terceiro dia consecutivo, o recolher obrigatório em Katmandu, a capital, na sequência de uma greve geral e protestos contra o poder absoluto do rei, Gyanendra. O recolher obrigatório durou ontem apenas sete horas (das 11h00 às 18h00 locais), o que pode denunciar algum "nervosismo" do regime, comentou o correspondente da BBC. "Queimem a coroa!", gritaram manifestantes, no domingo, enquanto a polícia investia e lançava gás lacrimogéneo, descreveu ontem o jornal New York Times. Muitos foram presos e espancados pelos agentes, que se espalharam pelas principais ruas da capital.
A greve geral, que começou na quinta-feira e deveria durar quatro dias, vai continuar. Os sete principais partidos da oposição que a convocaram prometeram prolongá-la "por tempo indefinido".
Os guerrilheiros maoístas, por seu turno, aderiram à paralisação. "Anunciamos (...) que nos juntaremos à greve geral", comunicaram ontem dois líderes do grupo, Prachanda e Baburam Bhattarai, citados pela BBC. Ameaçaram também remover estátuas e símbolos monárquicos, além de enviar guerrilheiros para ocupar auto-estradas nacionais.
Kamal Thapam, ministro do Interior, assegurou: "A partir de agora seremos mais rigorosos para preservar a ordem e voltar à normalidade". Sublinhou que "o governo se tem contido" e voltou a acusar os rebeldes maoístas de encorajar a revolta popular.
O gabinete da ONU para os direitos humanos no Nepal denunciou entretanto que manifestantes têm sido gravemente feridos e hospitalizados. Manifestou preocupação com a crescente violência, sobretudo das forças policiais, que considera "excessiva".
Já Lok Raj Bral, director do Centro de Estudos Contemporâneos do Nepal, alertou, em declarações ao NYTimes: "Se o movimento popular continua assim, o inevitável acontecerá em breve - a raiva em todo o lado é contra o rei."
A população acusa o monarca de "absolutismo" por controlar todos os poderes. Gyanendra alega, por seu turno, ser esta a única solução, já que os partidos nunca conseguiram travar os guerrilheiros maoístas.
Os protestos duram há uma semana e já resultaram na morte de três pessoas, entre sábado e domingo, durante uma intervenção policial.

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