Torne-se perito

13 Anos de Insucessos, a história até agora das Produções Fictícias

A equipa de humoristas mais famosa do país lança hoje, dia de aniversário e de festa no teatro Tivoli, em Lisboa, a sua biografia oficial escrita por Inês Fonseca Santos, argumentista das Produções Fictícias. Aqui fica um resumo. Por Maria Lopes

Normalmente os aniversários comemoram-se efusivamente quando são números "redondos" (10, 25, 50, ...). Mas quem diz que as Produções Fictícias se enquadram numa classificação de "normais"? Por isso, e porque não são supersticiosos nem estão a pregar uma mentira de 1 de Abril a ninguém, os elementos das Produções Fictícias comemoram hoje os 13 anos da equipa de humor mais famosa do país, com o lançamento de um livro biográfico sobre o seu percurso, desde quando eram uma simples ideia perdida entre as muitas que fervilhavam na cabeça de Nuno Artur Silva, até ao mais recente projecto, o Gato Fedorento na RTP1.Actualmente, a marca Produções Fictícias já não é apenas uma expressão que "faz lembrar qualquer coisa". Demorou pelo menos uma década, mas o público consegue agora associar o nome a projectos actuais de sucesso como o Herman SIC, Contra-Informação, Gato Fedorento, os suplementos do PÚBLICO, O Inimigo Público e Kulto, as séries Bocage ou Inspector Max, os programas Eixo do Mal e O Homem que Mordeu o Cão, as tertúlias do Teatro S. Luiz É a Cultura, Estúpido!. Algumas outras dezenas se contam neste percurso por vezes sinuoso, retratado no livro Produções Fictícias - 13 anos de insucessos, de Inês Fonseca Santos, redigido à boa maneira da escrita criativa da equipa.
Ao núcleo inicial composto por Nuno Artur Silva, José de Pina, Miguel Viterbo e Rui Cardoso Martins foram-se juntando nomes mais ou menos conhecidos, com mais ou menos idade. Mas é incontornável: Nuno Artur Silva foi a alma, o coração, as mãos, os pés, talvez mesmo até todo o corpo das Produções Fictícias no arranque do projecto. Foi a "carolice" "nunarturiana", como lhe chama a autora, que permitiu que hoje exista uma empresa que é um autêntico case study.
Nuno Artur, ainda professor de Português, escrevia incessantemente projectos de humor e enviava-os à RTP, mas nem sequer tinha resposta. Até que, no início dos anos 90, José Nuno Martins, então director de programas da televisão pública, aceitou alguns textos para uns curtos sketches de humor que José Pedro Gomes e Miguel Guilherme fariam para um programa de Joaquim Letria na RTP2. Herman José, atento, pediu que lho apresentassem. Mas os projectos teimavam em não se concretizar - nem mesmo um programa pronto chamado Produções Fictícias Apresentam chegou ao ecrã.
Foi com a colaboração com Herman José no Parabéns que a equipa das Produções acendeu o rastilho e o soprou, nos programas que o humorista fez até ao final da década de 90 na estação pública. Com o Contra-Informação, o rés-do-chão do número 27 da Travessa da Fábrica dos Pentes, às Amoreiras, em Lisboa, viu chegar caras e nova massa cinzenta, que enchiam as noitadas a produzir textos.
Mas durante vários anos a equipa de guionistas liderada por Nuno Artur Silva foi uma espécie de "salteadora do humor perdido": muito poucos sabiam a origem dos textos que davam as gargalhadas a Herman e a outros programas da TV portuguesa. Segundo o livro, os argumentistas chegaram a sentir-se "desprezados, ignorados, postos de lado". Sempre se bateram pela total liberdade de criação - o que os levou até a perder vários trabalhos por tanto baterem o pé para defenderem os seus textos.
As Produções Fictícias inauguraram a moda de fazer cursos de guionismo, através dos quais seleccionam novos elementos. Em vez de funcionar numa lógica patrão-empregados, a empresa assume o papel de gestora de conteúdos dos seus associados.
"Sempre tive a ideia de escrever ficção e o meu projecto artístico geral era fazer um centro de produção de ideias que fosse um sítio onde as pessoas se cruzassem para escrever peças de teatro, guiões para cinema, histórias", descreve Nuno Artur Silva. Como afirma a autora da biografia, Inês Fonseca Santos, pelo menos há um português que realizou o seu sonho...

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