Torne-se perito

Principal canal francês escolhe um pivot negro para horário nobre

Harry Roselmack foi escolhido para apresentar as notícias na TF1, num horário visto por dez milhões de franceses. E em Portugal?

É um momento inédito na história do jornalismo televisivo francês. Pela primeira vez os telespectadores franceses vão ter um pivot negro a dar-lhes as principais notícias da actualidade, enquanto jantam, às 20h00, no canal com mais audiência, oTF1, ou La Une, como os franceses preferem chamar-lhe. Em Portugal, o único negro que chegou a apresentar um telejornal das oito (na TVI, está hoje na SIC a apresentar o programa às 6h15 da manhã.Harry Roselmack, actualmente jornalista de um outro canal francês, o Canal+, vai substituir o conhecido pivot Patrick Poivre d"Arvor. E há já entre os media franceses quem sugira que foi o ministro do Interior Nicolas Sarkozy, que colocou um negro no jornal das 20h00 para acalmar as minorias.
Duas semanas antes da TF1 anunciar que Harry Roselmack ia ser o pivot que ocuparia o lugar de Patrick Poivre d"Arvor, que se vai reformar, no jornal das 20h00, já o Governo francês o sabia, dizia, na sua edição de oito de Março o diário Libération. O ministro Nicolas Sarkozy terá sabido da notícia a 17 de Fevereiro, e este pré-conhecimento é já lido como uma interferência do Governo nos media, dizia o jornal.
Mas isso não tira o mérito a Harry Roselmack, que, seja como for, vai entrar na história do jornalismo televisivo em França. Ele será o primeiro pivot negro na história do noticiário de horário nobre do principal canal francês. E um dos únicos no panorama televisivo em França, ao lado de Audrey Pulvar, que é pivot no jornal da tarde do canal France 3 desde Setembro do ano passado.
Roselmack entrou para o canal de informação i-TELE o ano passado, onde apresentava a síntese informativa a meio da tarde. E actualmente tem um contrato de exclusividade de imagem com o Canal+, que acabaria em Agosto, mas que, segundo os meios de comunicação franceses está a ser renegociado, para que Roselmack possa abandonar o Canal+ e ingressar na TF1, onde se sentará na cadeira de Patrick Poivre d"Arvor a partir de 15 de Julho. Em declarações à AFP, o Club Averroès, uma associação que defende a imagem das minorias nos media franceses disse que a notícia é excelente e que tem "o efeito de uma bomba": "Para nós é um avanço sagrado", disse o presidente da associação Amirouche Laïdi.
O Libération conta os pormenores da história. Depois de uma reunião, em meados de Fevereiro, com o Club Averroès, Sarkozy terá dito: "Vamos ter um negro, este Verão, no horário das oito." Também Jacques Chirac já tinha apelado aos responsáveis da indústria do audiovisual para que tentassem que os media representassem melhor a diversidade étnica da França actual.

Do horário nobre da TVI para o amanhecer da SIC
José Mussuaili foi o único pivot negro que alguma vez a televisão portuguesa colocou num telejornal, em 1992, an TVI. "Foi por acaso. Estava em reportagem no Algarve quando me telefonaram a dizer que o Miguel Ganhão Pereira tinha tido um acidente e que eu tinha de o vir substituir no Jornal de Sábado. Foi o pânico. Mas pensei que se conseguisse dizer boa tarde sem me engasgar que ia correr bem. E assim foi", conta Mussuaili, que tinha 25 anos na altura.
A experiência como pivot do jornalista durou cerca de dois anos. "Nunca tive um comentário desagradável. Mas sei que existiram. Na generalidade, as pessoas aceitaram bem e ainda hoje, quando me vêem na rua dizem: "olha o senhor da TVI!" Aquele tempo marcou-me. Quando saí, perguntavam-me o que se tinha passado, e falavam de racismo. Não nego que tenha havido. Mas saí a bem", conta Mussuaili, que se recusa a falar em quotas para as minorias nos media. Actualment, Mussuaili está na SIC a apresentar o programa Etnias às 6h15 da manhã de quarta-feira,
António Monteiro Coelho, porta-voz da TVI afirmou ao PÚBLICO que a única razão para que não apareçam mais casos como os de Mussuaili prende-se com a pouca representatividade de jornalistas negros nas redacções. Na TVI existem três, afirma. E nem sempre reúnem as condições que um pivot exige: "O José Mussuaili tinha presença e boa dicção. Reunia as condições de um bom pivot. Mas há uma grande rotatividade nestas funções. Não há lugares fixos". E acrescenta. "Nunca nos passou pela ideia forçar a situação para apoiar as minorias. Gostamos de apoiar valores novos", garantindo que a cor é um factor que ali não conta.
Mas Mussuaili acha estranho, num país com uma relação tão forte com África, o seu caso ser único: " Ainda existem preconceitos em Portugal na relação com os africanos que não existem em países sem a nossa história em África, como a Alemanha."
Com origens familiares na ilha de Martinica, Harry Roselmack, nasceu no dia 20 de Março de 1973 em Tours (Oeste). Detentor de duas licenciaturas, em História e Jornalismo, o jornalista deixo a rádio France Info em Agosto de 2005 para se juntar à equipa do canal de informação contínua i-TELE (do grupo Canal +) onde apresentava A Grande Edição, o principal telejornal da estação que vai para o ar ao início da noite. Roselmack também estava presente no Canal + onde apresentava as notícas à hora do almoço no programa Não Somos Anjos. A sua carreira jornalistica começou na Rádio Tropical, antes de ser contratado pela France Info.

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