Nuno Ramalho, Baseado em Factos Verídicos, na Galeria Graça Brandão

Dia de inaugurações no Porto inclui ainda mostras de Pedro Calapez, Paulo Quintas, Pedro Vaz, Luís Melo e Susana Chiocca, entre outros

Baseado em Factos Verídicos, de Nuno Ramalho, é uma das exposições marcantes do segundo sábado consecutivo de inaugurações no Porto, que hoje acontece a partir das 16h. A mostra, apresentada num dos espaços da Galeria Graça Brandão, inclui uma série de trabalhos com os quais este artista, um dos mais destacados da recente geração da arte portuguesa, prossegue a sua tarefa de questionamento do sistema artístico e das suas diversas declinações. A exposição reúne trabalhos realizados em diferentes meios, como o desenho, o vídeo, a escultura e a instalação, elementos com os quais Nuno Ramalho vai criando sucessivos momentos que produzem um comentário acerca de uma geração de artistas, a sua, hoje à volta dos trinta anos, e das formas como esta tem sido integrada no mercado.
Labaredas estilizadas em MDF e intituladas the end was coming so there were some quiet goodbyes; grafitti em acrílico com o título genérico Derrotados; duas figuras masculinas mascaradas, também recortadas em MDF, com t-shirts nas quais se podem ler os nomes de Jasper Johns e Robert Rauschenberg - esta obra toca não só aspectos relacionados com as amizades masculinas, mas também evoca uma determinada tradição artística, neodadá, inaugurada por aqueles nomes, agora sujeitos às regras do marketing -; o vídeo Um Dia, a série de desenhos Salário e a escultura Restos são algumas das obras da exposição.
Note-se ainda que quer o conjunto de trabalhos sobre papel Salário, quer Restos utilizam as sobras das cem notas de cinco euros recortadas sob a forma de borboletas e usadas na instalação Chinoiserie, revelada na exposição anterior da galeria. Na série de desenhos (com colagem), e tal como acontecera na sua primeira mostra individual num espaço comercial, Nuno Ramalho volta a representar o seu galerista, José Mário Brandão, que agora é retratado a realizar uma série de acções associadas ao seu trabalho quotidiano, gestos que, por vezes, constituem verdadeiros passes de mágica.
No outro espaço da Galeria Graça Brandão, merecem igualmente destaque as pinturas que Paulo Quintas revela sob o título Montanha Fria, nas quais se podem intuir uma série de referências, como aos artistas Brice Marden, Thierry de Cordier - nomeadamente na obra Telle une fleur ouverte aux abeilles 2 - e Van Gogh, neste caso numa evocação relacionada com uma planta abundantemente representada pelo pintor holandês, o girassol.

Pedro Calapez na PresençaUma outra exposição relevante com inauguração marcada para hoje é Para Lá da Montanha, de Pedro Calapez, na Galeria Presença, na qual se podem observar novos conjuntos de pinturas em acrílico sobre alumínio, que prolongam as recentes investigações do artista acerca do cruzamento entre elementos da gramática da pintura e da escultura minimal, destacando-se nesse particular Inc 01, Composição 24, ambos de 2005, e Enevoado Risco, de 2006 - obras nas quais se capta um ambiente próximo daquele que emerge de algumas séries de Andy Warhol, como Shadows.
Paisagens, de Pedro Vaz, é a proposta da Módulo do Porto, numa exposição que reúne pinturas sobre madeira e aguarelas, enquanto a Sala Maior apresenta Who Needs the Big Bad Wolf?, telas de Luís Melo apresentadas por um texto de José Luís Peixoto: "Os olhos que nos vêem a partir destas imagens guardam mundos atrás de si. Ao mesmo tempo, há contornos desses mundos que, milagrosamente, através da lógica própria da pintura, atravessam a pele e, como tatuagens, como um vidro a separar-nos sempre do Outro, nos dão pistas acerca daquilo que, em última análise, nos será sempre inacessível".
No vasto conjunto de mostras que abrem hoje as suas portas merecem ainda uma particular atenção Antoni Tàpies (Galeria Fernando Santos); JAM (not TAM), de João Alves Marrucho (Wasser Bassin, Edifício Artes em Partes); Grand Prix, de Bruno Borges (Cirurgias Urbanas); Restos de Escrita, de Avelino Sá (Livraria Index); e apesar de tudo..., de Susana Chiocca (Galeria Plumba), neste caso uma reflexão acerca dos conceitos de família e de amizade traduzidos em trabalhos realizados com recurso a fotografias, ao vídeo, ao som, elementos também reunidos num livro de artista.

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