Hoje vai falar-se de instrumentos de corda na Casa da Música

Joaquim Domingos Capela ensina como se fazem violinos na conferência A Construção de Instrumentos de Corda

Joaquim Domingos Capela é mestre na construção de instrumentos de corda, precisamente o tema da conferência que dá hoje a partir das 17h na Casa da Música, no Porto. Vai falar, entre outras coisas, de como usar goivas, plainas, raspadores, formões, facas, madeira de ácer, pinho dos Alpes e ébano, mais os componentes que servem para fabricar o verniz. De fora, ficam os segredos da sua arte."As pessoas olham para um violino e não sabem como é constituído", diz. "O violino é uma caixa acústica." A partir daqui há muito para ensinar. "Vou explicar a lei das cordas, como se calculam as distâncias dos trastos ou pontos ao cavalete", adianta. E falar da alma dos violinos, violoncelos, violas de arco, contrabaixos, violas de amor e violas de gamba.
Joaquim Capela vai, inclusivamente, mostrar como se faz um violino. "É uma coisa simples, mas é preciso ter habilidade." Mas não basta ter um instrumento de excelência, se não houver um músico dedicado: "O tocador dá muito ou pouco ao instrumento."
A qualidade da madeira também faz a diferença. Joaquim Capela importa-a da Alemanha ou de Itália. Madeira de ácer e o pinho de Alpes. Depois é pôr mãos à obra, o que faz no improvisado atelier na quinta onde reside em São Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia. Num violino, "constroem-se as ilhargas, depois o fundo e o tampo harmónico. As três peças são coladas e formam a caixa harmónica. Constrói-se o braço e a cabeça e em seguida encaixasse o braço no corpo", pormenoriza. Depois de aplicado o verniz, que é feito à base de álcool ou de óleo, montam-se as cravelhas, a alma, o cavalete, o estandarte e as cordas. E está pronto. O resto fica nas mãos do músico.
Neste altura, Joaquim Capela anda a recolher instrumentos de corda dedilhados e friccionados - liras, alaúdes, violas de arco, guitarras portuguesas e muitos outros - para uma exposição que será inaugurada a 18 de Fevereiro. São 30 instrumentos, alguns construídos pelo próprio violeiro, que podem ser vistos na Casa da Música até meados de Abril. Coordenará ainda um atelier de construção de instrumentos a 18 e 25 de Fevereiro.

A melhor amiga do homem
Para o mestre, a melhor amiga do homem é a madeira, a sua matéria-prima. "Nascemos e somos colocados num berço de madeira, crescemos e sentamo-nos num banco de madeira à mesa de madeira. E na última viagem vamos no meio de madeira."
Aos sete anos recebeu os primeiros ensinamentos da arte de fazer instrumentos de cordas. Aos nove construiu o seu primeiro violino. Permaneceu na oficina do pai, o reconhecido Domingos Ferreira Capela - o homem de Espinho que deu fama aos instrumentos Capela e que transmitiu a arte a alguns dos seus cinco filhos -, até aos 22 anos. Aprendeu tudo o que havia a saber na matéria e que faz questão de transmitir em conferências que realiza em escolas, academias, conservatórios de música, associações culturais e universidades.
Joaquim Domingos Capela foi ainda operário metalúrgico, antes de se licenciar em Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia do Porto, onde também foi professor. Hoje, divide o tempo entre construir instrumentos de corda, palestras, estudar História e visitar museus da Europa e na América. E, claro, participa em vários concursos internacionais de construção de violinos.
Todos os instrumentos que fabrica são uma homenagem. Em 1984, construiu quatro instrumentos que dedica a seu pai. Mas há também dedicatórias a Carlos Paredes, Amália Rodrigues e Stradivarius.

Sugerir correcção