Os "piratas" da República Checa

Integrada na União Europeia (UE) durante o grande alargamento de Maio de 2004, a República Checa é outros dos países da Europa de Leste abalado pela corrupção. Citado como "modelo de sucesso" na década de 1990, o "mito checo" começa a soçobrar, após as principais figuras das "privatizações pós-comunistas" terem conhecido como destino o exílio ou a prisão. "Alguns empresários aproveitaram-se do vazio jurídico durante a transição para o capitalismo para concentrar fortunas colossais de forma fraudulenta e desaparecerem. É preciso tempo para que a justiça combata eficazmente este abuso, mas estamos no bom caminho", assegurou ao Libération o politólogo Jiri Pehe.
Três figuras têm merecido a atenção neste cenário. Victor Kozney, 42 anos, preso recentemente e levado a julgamento em Nassau, capital das Bahamas. Arrisca-se a ser extraditado para os EUA onde é perseguido por ter ludibriado investidores norte-americanos no Azerbaijão.
Kozney, que em 1994 merecia elogios do então primeiro-ministro e actual Presidente checo, Vaclav Klaus, vivia refugiado nas Bahamas numa luxuosa residência. Detentor de oito passaportes o "pirata de Praga", como é agora designado, é ainda suspeito de ter delapidado milhares de pequenos accionistas durante o período da "privatização por cupões" na República Checa, mas a sua extradição para Praga está bloqueada pela inexistência de um tratado.
O seu ex-sócio, Radovan Krejcir, optou pelo oceano Índico para gozar a sua reforma aos 40 anos, após ter garantido uma enorme fortuna no mesmo período, em negócios muito duvidosos. Depois de ter conseguido escapar da República Checa, adquiriu diversas mansões nas Ilhas Seychelles e exibe um passaporte local, que também obteve para toda a sua família.
Suspeito de fraude fiscal, organização criminosa e morte premeditada, Krejcir escuda-se na ausência de tratado de extradição entre as Seychelles e a República Checa. Acabou de publicar um livro onde denuncia a "corrupção a todos os níveis da Administração checa" e assegura ter financiado o Partido Social-Democrata com vários milhões de coroas. Já Tomas Pitr, 34 anos, o "rei do agro-alimentar" e que visitou por uma vez Krejcir, teve menos sorte e foi condenado a oito anos e meio de prisão por fraude fiscal.
Vladimir Zelezny, 60 anos, outro dos "barões" checos, distingue-se destes "jovens lobos" pela sua argúcia. Acusado de evasão fiscal, construiu um importante império mediático e envolveu-se na política. Eleito senador em 2002, tornou-se dois anos mais tarde um dos 24 eurodeputados checos. Os senadores do seu país, e de seguida os deputados europeus acabaram por lhe retirar a imunidade parlamentar. Mas apesar de ter sido alvo de novas acusações, já se envolveu na campanha para as legislativas de Junho próximo. P.C.R.

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