Paisagens da Provença celebram centenário da morte de Cézanne

"Cézanne in Provence" é uma retrospectiva que explora a ligação emocional e artística do pintor francês à sua cidade natal de Aix-en Provence. Cem obras de arte numa exposição que pretende ser o principal acontecimento internacional que marca em 2006 o centenário da morte do pintor.

Uma das mais completas reuniões do trabalho de Paul Cézanne inaugura hoje na National Gallery of Art de Washington, marcando o arranque oficial das comemorações do centenário da morte do pintor francês, que é considerado o pai da arte moderna. Cézanne in Provence é uma retrospectiva que explora a profunda ligação emocional e artística à sua cidade natal de Aix-en Provence e a toda a região, cujas paisagens, pessoas e modos de vida compõem o grosso do legado do pintor.A mostra é uma colaboração entre o museu de Washington e o Musée Granet de Aix-en-Provence, para onde, aliás, seguirá assim que estiver concluído o grande projecto de renovação do edifício, no Verão. Com mais de uma centena de obras, está organizada em três grandes temas, que correspondem igualmente ao percurso cronológico e mesmo geográfico do artista. Os primeiros trabalhos remetem para a casa de férias da abastada família Cézanne, em Jas de Bouffan, onde Paul viveu uma infância e juventude idílicas. Em seguida, demonstram a obsessão de Cézanne pelas paisagens da Provença, uma região que, como dizia, "ainda não encontrou um intérprete digno das riquezas que tem para oferecer". Finalmente, apresentam os trabalhos executados no seu atelier de Les Lauves, onde pintou vários retratos e naturezas-mortas, e ainda os célebres Les Baigneurs.
Nascido em 1839, filho de um banqueiro de Aix-en-Provence, o jovem Paul perseguiu a sua paixão pela pintura apesar da oposição do pai. Depois de estudar desenho e pintura, Paul ainda tentou durante algum tempo satisfazer os desejos paternos e enveredou pelo estudo do direito. Mas o seu amor pelas artes seria maior, levando-o até Paris onde depois de se familiarizar com o trabalho dos mestres Tintoretto e Rubens, e dos mais modernos Delacroix e Courbet, se começou a interessar pelas experiências de novos artistas como Edouard Manet, Claude Monet e Camille Pissarro. Os seus novos amigos personificavam o movimento impressionista e com eles Cézanne desenvolveu um interesse particular pela luminosidade, pela expressão do trabalho do pincel e pelos temas paisagísticos e naturais.
A sua amada Provença era o território ideal para experimentar as suas técnicas artísticas revolucionárias: Cézanne procurava recriar a natureza através de uma simplificação das formas até às suas figuras geométricas fundamentais.
Pintou exaustivamente os caminhos, as aldeias, as ruínas históricas ou a impressionante montanha de Sainte-Victoire, distorcendo os seus contornos e atribuindo-lhe um carácter quase fantástico pela sua recusa em utilizar o sistema tradicional da perspectiva. A depuração das formas que marcou o final da sua carreira abriu a porta ao cubismo de Pablo Picasso, George Braque e Juan Gris.
"Paul Cézanne foi um dos maiores pintores pós-impressionistas e a sua obra influenciou gerações e gerações de artistas até ao dia de hoje. Esta exposição pretende celebrar o seu sentido único e original e a sua celebração muito característica e particular da paisagem da sua região", comentou o director da Galeria Nacional de Arte, Earl A. Powell III.
Num vasto programa paralelo que acompanha a exposição, a National Gallery of Art agendou ainda dezenas de conferências com alguns dos maiores especialistas sobre o artista, sobre pintura paisagística e sobre o movimento impressionista. Da cinemateca francesa chegarão dezenas de filmes realizados entre 1921 e 1998 sobre as paisagens e o modo de vida da Provença. A região de Cézanne tomará ainda conta de outros espaços da ala oeste do enorme museu: a cafetaria foi transformada num Café Provençal (para o efeito, foi convidado um dos mais requisitados chefs culinários de Aix-en-Provence), e a loja do museu, além de catálogos e postais, terá uma secção de produtos franceses de alfazema, cerâmica e têxteis.

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