Torne-se perito

Vaivém Challenger explodiu há 20 anos

Os Estados Unidos e a NASA tiveram a primeira grande catástrofe espacial em 1986, com um vaivém. Dezassete anos mais tarde, em 2003, desintegrou-se outro vaivém e feriu de morte o programa de vaivéns, porque os Estados Unidos decidiram reformá-los antecipadamente, em 2010, e avançar para planos que passam por desenvolver veículos separados para a tripulação e a carga. Ir à Lua e a Marte são agora os grandes projectos. Por Teresa Firmino

Estava uma manhã muito fria de Inverno, com um céu azul resplandecente. O vaivém Challenger estava prestes a ir para o espaço, a 28 de Janeiro de 1986. Às 11h38, no Centro Espacial Kennedy, na Florida, Estados Unidos, elevava-se no ar, envolto nos já familiares novelos de vapor de água e gases. Era o 25.º lançamento de um vaivém, pelo que já eram rotineiros. Mas ao fim de 73 segundos no ar, o Challenger desintegrava-se e o azul do céu deixava ver com uma clareza assombrosa as chamas e os fumos da explosão com a forma de um gigantesco V, transmitidos em directo nas televisões. Os 20 anos da explosão do Challenger são assinalados hoje por uma cerimónia no Centro Kennedy, à qual assistirão os familiares dos sete tripulantes, cinco homens e duas mulheres, que morreram: o comandante Francis Scobee, o piloto Michael Smith, os especialistas de missão Judith Resnij, Ellison Onizuka e Ronald McNair, o especialista de carga Gregory Jarvis e a professora Christa McAuliffe.
Ela era a grande vedeta da missão, pois pela primeira vez a agência espacial norte-americana levaria para o espaço um passageiro comum. Christa McAuliffe, de 37 anos, tinha sido seleccionada, entre 11 mil candidatos, pelo que planeava dar aulas em directo enquanto o Challenger orbitasse a Terra. Ensinava Inglês e História.
As imagens do Challenger a desintegrar-se fazem parte da memória colectiva da Terra. Estavam a ser transmitidas em directo pelas cadeias de televisão, as famílias dos astronautas encontravam-se numa tribuna ao ar livre e uma multidão concentrava-se no Centro Kennedy. Era a décima vez que o Challenger ia para o espaço: como carga principal levava o satélite Tracking and Data Relay Satellite-2 (TDRS) e um módulo de observação do cometa Halley.
Para a NASA, foi a primeira grande catástrofe e um golpe rude na sua credibilidade, ao pôr em xeque os seus procedimentos de segurança (ver caixa). Mas os sete tripulantes não eram as primeiras baixas do programa norte-americano de exploração do espaço, nem seriam as últimas.
Com poucos dias de diferença, os EUA assinalam a morte de três astronautas da nave Apolo 1, durante um incêndio na rampa de lançamento quando ensaiavam uma contagem decrescente. Foi a 27 de Janeiro de 1967. E daqui a quatro dias, a 1 de Fevereiro, faz três anos que outro vaivém, o Columbia, se desintegrou quando voltava de uma missão. Outros sete astronautas perderam a vida, elevando para 17 as baixas humanas do programa espacial norte-americano.
De novo, a credibilidade da NASA foi ferida e a história repetiu-se tristemente, pois os procedimentos da agência voltaram a estar na berlinda. Quando partiu, um bocado de espuma do isolante do tanque externo soltou-se e embateu numa asa, danificando o escudo térmico, vital na reentrada na atmosfera. Aliás, o escudo térmico era um problema recorrente, a necessitar sempre de reparações no regresso.
Ainda no espaço, um engenheiro da NASA disse que o Columbia corria riscos na reentrada, mas os responsáveis pelo voo acharam que o percalço com a espuma era insignificante.
Tal como em 1986, a frota de vaivéns, agora resumida ao Discovery, Atlantis e Endeavour, ficou em terra dois anos e meio. O Discovery retomou os voos no Verão passado, mas os problemas voltaram a manter cá em baixo a frota, que o Presidente George W. Bush já decidiu reformar em 2010. Carga e tripulação irão em veículos separados, a desenvolver, e os objectivos são agora ir à Lua e a Marte.

Explosão aos 73 segundosApenas 0,6 segundos após a descolagem do Challenger, passava-se já algo anormal, como mostraria depois a análise das imagens. Saía um fumo cinzento do local onde começaram os problemas - uma junta que não vedou os gases quentes resultantes da combustão do motor de um dos foguetões que elevam o vaivém até ao espaço.
Entre os 0,8 e os 2,5 segundos, registaram-se oito jactos de fumo cada vez mais escuros, relata-se no livro The Mammoth Book of Space Exploration and Disasters, de Richard Russell Lawrence (Carol & Graf Publishers). "A primeira chama, muito pequena, foi detectada, através da ampliação das imagens, ao fim de 58,7 segundos (...). Aos 59,2 cresceu para uma pluma de chamas contínua e definida."
A primeira indicação de que as chamas do foguetão de combustível sólido causavam fissuras no tanque de combustível líquido (oxigénio e hidrogénio) foi uma mudança brusca na forma e cor das chamas. Aos 64,6 segundos, estavam a misturar-se com o hidrogénio do tanque externo.
A situação evoluiu tão depressa que, aos 73,13 segundos, o vaivém explodiu. Partiu-se em secções grandes, que emergiram da bola de fogo. "O módulo da tripulação separou-se intacto da bola de fogo antes de uma queda livre de dois minutos, desde os 15 quilómetros de altitude até mergulhar no mar", lê-se ainda. "Os membros da tripulação não tinham pára-quedas, nem maneira de abrir a escotilha."
Às 17h00, o Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, falava ao país, e ao mundo. "Esta é verdadeiramente uma perda nacional. Nunca tínhamos perdido um astronauta em voo, nunca tivemos uma tragédia como esta."

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