Última casa de Almeida Garrett começou ontem a ser demolida

Fórum Cidadania vai ser recebido segunda-feira pela presidente da assembleia municipal

A casa onde viveu e morreu o escritor Almeida Garrett, em Campo de Ourique, Lisboa, começou ontem a ser demolida, anunciou o movimento Fórum Cidadania. A demolição do edifício é o culminar de um longo processo de avanços e recuos na decisão de deitar abaixo o imóvel situado nos números 66 a 68 da Rua Saraiva de Carvalho.Em comunicado, o movimento de cidadãos lisboeta apela a todos os portugueses para que intercedam junto do primeiro-ministro, José Sócrates, a fim de evitar esta situação. "Perante o analfabetismo crónico de quem tem dependido este processo lamentável - Câmara de Lisboa, Ministério da Cultura e proprietário -, só há neste momento uma pessoa capaz de travar este processo, que é o primeiro-ministro", salienta o movimento.
No comunicado criticam-se diversas pessoas e entidades: além do presidente da câmara e de vários ex e actuais vereadores (Eduarda Napoleão, Maria Manuel Pinto Barbosa, Maria José Nogueira Pinto e Amaral Lopes), também são alvos o Ministério da Cultura e o IPPAR.
O edifício que começou a ser destruído vai dar lugar a um edifício de habitação com apartamentos luxuosos, promovido pelo proprietário do prédio, o actual ministro da Economia, Manuel Pinho.
Depois de a demolição ter sido autorizada pela autarquia lisboeta, em 2004, o Fórum Cidadania, um movimento de cidadãos lisboetas, recolheu mais de 2300 assinaturas numa petição a defender a preservação do edifício e a sua transformação numa casa-museu dedicada à memória do escritor de Viagens na Minha Terra.
O então presidente da câmara, Pedro Santana Lopes, mandou suspender em Junho do ano passado a autorização para demolir a casa, uma decisão que vigorou por seis meses, prazo que terminou na semana passada. Na altura, o então vice-presidente da autarquia, Carmona Rodrigues, considerou que "a demolição do referido imóvel significaria a perda irreparável de um valor patrimonial da cidade de Lisboa e de um exemplo vivo da história de Portugal, atentando igualmente contra o ambiente urbano".
Como actual presidente do executivo camarário, Carmona Rodrigues justificou a decisão de autorizar o proprietário a demolir o imóvel com a inexistência de interesse da autarquia e do IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico) na preservação do edifício, além da falta de dinheiro para a sua transformação numa casa-museu, a aquisição de um espólio e o pagamento de contrapartidas a Manuel Pinho.
O Fórum Cidadania - ao qual também se associou o Grémio Literário - pediu uma audiência à presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Paula Teixeira de Cruz (PSD). Ficou marcada para dia 9 (segunda-feira), pelas 13h00. O Fórum agradeceu (e aceitou) com uma mensagem algo irónica: "Muito obrigado de novo, mas talvez já seja tarde... pois a casa já está a ser demolida." Provavelmente quando o encontro tiver lugar já não haverá Casa Garrett.

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