Futebol alimenta rivalidade entre Coimbra e a Figueira da Foz

Depois de várias décadas em escalões diferentes, e de alguns encontros na segunda divisão, Académica e Naval defrontam-se hoje pela primeira vez na Liga

Foram escassos os momentos na história do futebol português em que os percursos da Associação Naval 1.º de Maio e da Académica se encontraram. Ainda assim, a Académica já subiu de escalão graças a uma vitória do clube da Figueira da Foz sobre o União de Coimbra, e entre os dois clubes há a registar diversos encontros amigáveis e oficiais, quando as duas equipas jogavam juntas na segunda divisão do futebol português. O encontro desta tarde, na Figueira da Foz, é, no entanto, o primeiro entre os dois clubes no escalão principal do futebol português. Um clássico regional alimentado pela rivalidade entre Coimbra e a Figueira da Foz."Em Coimbra, não chamam Coimbra-B à Figueira da Foz?", pergunta João Almeida, ex-defesa central da Naval 1.º de Maio da década de sessenta e actualmente dirigente do departamento de futebol do clube, para quem a rivalidade entre os dois emblemas não é um fenómeno desportivo mas uma consequência da competição entre as duas cidades. "Só pode ser assim. A Académica andou sempre nos primeiros escalões e a Naval esteve durante muitos anos na terceira divisão. São clubes muito diferentes e não deixa de ser assinalável que a Naval venha hoje a encontrar a Académica na primeira liga. Os tempos mudam muito", sustém, relembrando "as diferenças enormes" entre os dois clubes, na década de sessenta, quando era o capitão da Naval.
Há muito pouca coisa a unir os dois emblemas, que surgiram em contextos muito diversos. A Académica, um dos mais antigos clubes nacionais, foi fundada em 1876, por um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra que fundiram o Clube Atlético de Coimbra com a Academia Dramática, enquanto a Associação Naval 1.º de Maio foi fundada em 1893, por pessoas oriundas da classe operária que quiseram assinalar a data histórica da classe trabalhadora, criando um clube dedicado sobretudo aos desportos náuticos. A Naval afirmava-se como uma colectividade criada para o povo e virada para o povo, enquanto a Académica estabelecia desde o início uma relação forte com a universidade, que lhe conferia prestígio e a possibilidade de oferecer competição desportiva e formação universitária aos seus atletas.
Apesar das origens tão distintas, os dois clubes tiveram alguns encontros decisivos e influenciaram as respectivas carreiras desportivas. Em 1945, Académica e União de Coimbra disputavam a subida dos distritais para os campeonatos nacionais, e na última jornada a Naval recebia a União de Coimbra: "Era um jogo decisivo para o União de Coimbra porque precisavam de ganhar para ultrapassar a Académica e subir aos nacionais. E para a Académica, a vitória da Naval era tão importante que chegaram a oferecer a cada jogador da Naval um prémio de mil escudos se ganhássemos o jogo. Ganhámos por dois a um e a Académica lá subiu para os nacionais", recorda Adagildo Carvalho, funcionário da Naval e fiel depositário da história do clube. Mais recentemente, foi frente à Naval que a Académica garantiu a subida à primeira liga de futebol, na última jornada da época 2001-2002, vencendo por 2-1 a equipa da Figueira da Foz.
Actualmente, apesar de jogarem no mesmo escalão e estarem separados por apenas dois pontos na tabela classificativa, existem ainda algumas diferenças entre os dois clubes. A Naval conta hoje com cerca de dois mil sócios apenas, praticamente não tem património e atravessa algumas dificuldades financeiras que, por algumas vezes, já ameaçaram a sua existência. A Académica tem cerca de 18 mil sócios, um estádio com capacidade para 30 mil pessoas e, depois de quatro épocas consecutivas na Liga de Futebol, aspira a algo mais do que a simples manutenção. Já a Naval, estreante nesta competição, vai lutar para se manter na primeira liga, como garante Joaquim Parente, vice-presidente do clube.

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