A graça dos nomes

"Qual é a sua graça?" Muitos ainda se lembrarão desta forma de perguntar o nome a uma pessoa. Porque os nomes têm graça. E têm história. Fixar essas duas marcas é o que procura - não em relação aos nomes próprios, mas para os nomes de localidades portuguesas - o recém-publicado Dicionário do Nome das Terras, de João Fonseca, da Casa das Letras. Aqui se reúnem "origens, curiosidades e lendas" de mais de mil topónimos do país, num registo que tem graça por misturar tanto a erudição dos estudiosos com a imaginação popular, por vezes delirante. Aqui não são omitidas as "versões de credibilidade duvidosa, que também são deste mundo", adverte o autor - que não tem pejo em confessar que há nomes sem explicação conhecida. As raízes árabes são muitas. É o caso de Alfama (de "alhama", ou fonte), Alcântara (de "al-qantara", ou ponte) ou Almada (de "al-madan", ou mina). Mas também de Moscavide, nascida talvez de um original "maskba", ou sementeira. As latinas também proliferam. Veja-se a Caparica, que, descontando as famosas lendas da capa rica, poderá lembrar as perfumadas "cappari" (alcaparras) que ali cresciam (já agora lembre-se o Pragal, provável terra de um grande espargal). Ou veja-se Caxias, se calhar saído do espanhol "casillas" (casas pequenas) ou do latim "quassina" (rochedo, quebra-mar). Outras interpretações vão a tempos mais recentes. Para o Lumiar refere-se a lenda de uma "escapadela" nocturna de D. Dinis que a rainha D. Isabel veio "alumiar" para que ele soubesse que ela sabia... Paço de Arcos poderá lembrar o palácio com duas torres ligadas por uma varanda de arcos de onde D. Manuel controlava as naus da Índia passando no Tejo. Braço de Prata recorda a alcunha do dono de uma quinta, António Meneses, que, decepado em refrega contra holandeses no Brasil, substituiu o membro por uma articulação daquele metal. Mais prosaicos são os casos de Cascais - de "cascal", ou monte de cascas de moluscos - e da Trafaria, onde os pescadores iam "à tarrafa, à ria". Casos como a Buraca ou Muxagata (concelho de Fornos de Algodres) não têm explicação. F.N.

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