RE.AL Recomeçar 15 anos depois

Estrutura inicia ciclo de maior estabilidade, com um espaço de residência artística e novos projectos

A RE.AL, a estrutura de produção associada ao bailarino e coreógrafo João Fiadeiro, faz amanhã 15 anos. Ao contrário do que aconteceu em 2000, no seu décimo aniversário, há motivos de sobra para festejar. Desde Janeiro que tem sede própria e o edifício conta a partir de agora com um espaço para residências artísticas: cinco quartos luminosos, onde poderão ficar bailarinos, escritores ou dramaturgos. "Ainda não há um esquema fixo para acesso a este espaço de residência", explicou ontem Fiadeiro. "Para já vai servir para acolher os artistas que vierem participar nas actividades da companhia. Numa segunda fase poderá ser alargado."
Com a inauguração do espaço que ocupa o segundo andar do prédio que em tempos serviu de depósito aos Armazéns Conde Barão, a RE.AL passa a ter operacionais 400 metros quadrados na Rua do Poço dos Negros, em Lisboa, que quer rapidamente transformar num centro para a criação contemporânea.
"O estúdio é o próximo passo. Temos condições mínimas, mas para criar uma blackbox a sério, com teia, precisamos entre 50 e 70 mil euros", explica o coreógrafo que dirige esta estrutura - do Instituto das Artes recebe anualmente 130 mil euros. Este financiamento cobre 40 por cento da actividade da RE.AL, sendo os restantes 60 por cento assegurados pela venda de espectáculos em Portugal e no estrangeiro e por subsídios pontuais, como os que permitiram as obras no edifício: 15 mil euros da Gulbenkian e 7500 da Câmara de Lisboa.

Investigar e divulgarCom um novo espaço em pleno funcionamento, que Fiadeiro quer "íntimo, informal, mas rigoroso nas propostas e nas formas" de apresentação do trabalho dos artistas, dá-se uma reorganização interna da RE.AL. A sua área privilegiada continuará a ser a da criação, partindo do trabalho de Fiadeiro e de dois jovens que tem vindo a apoiar e que, a partir daqui, aparecerão como coreógrafos associados: Tiago Guedes e Cláudia Dias. Ambos estarão presentes num novo projecto de pesquisa e experimentação, o Núcleo de Investigação RE.AL (NIR). Aí vão encontrar-se ainda criadores como Márcia Lança, Ana Borralho, João Galante e Mário Afonso.
Na programação de 2006, a RE.AL vai apresentar a 12ª edição do LAB - espaço de formação artística que começou em 1993 e que está hoje intimamente ligado ao conceito de residência -, os resultados do primeiro Case Study, projecto que junta em criação 12 intérpretes internacionais que ao longo dos últimos anos tenham participado em workshops de Fiadeiro, e os primeiros Blind Dates.
"De um lado temos o LAB, que assegura a continuidade. Do outro, novas propostas para jovens intérpretes e um desafio ao público." Nos Blind Dates, "espaço híbrido e de risco", o público sabe apenas em que dia se realiza o encontro e tem acesso a uma citação ou frase do convidado. "É sempre alguém - escritor, músico, encenador, coreógrafo - que está em Portugal por qualquer motivo. Através de SMS, e-mail ou do simples boca a boca, informamos as pessoas de que vai haver um encontro, sem dizer com quem." É suposto que o público se desloque à sede da RE.AL disposto a ser surpreendido. Pode encontrar uma conversa, uma instalação, uma refeição. "O artista pode apresentar algo que esteja na periferia do trabalho que o torna conhecido", como um coreógrafo que toca um instrumento, um bailarino que canta.
"Esta reorganização é o produto de uma longa reflexão. O contexto contemporâneo não suporta companhias com elencos fixos e estruturas muito pesadas", diz Fiadeiro. "Aqui continuamos a assumir a importância da contaminação geracional e da transversalidade das artes."

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