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Paris alerta no fim-de-semana de "todos os perigos"

Paris está sob tensão este fim-de-semana mas, de tarde, foi em Lyon que rebentaram os piores distúrbios. A violência aumenta na província, mas desce na região parisiense. A polícia "está farta"

Depois dos apelos de jovens dos subúrbios a transferirem para dentro de Paris a violência urbana que assola as periferias desde há 18 dias, a capital foi colocada sob uma vigilância tão apertada, que só raros jovens com menos de 20 anos chegavam ontem dos bairros desfavorecidos à capital. A proibição de manifestações e de "reuniões de pessoas susceptíveis de provocar ou alimentar a desordem" foi decretada desde as 10h de ontem até às 8h de hoje. Mas já na sexta-feira à noite, não se via nenhum grupo de jovens destes bairros nos Campos-Elísios. Ora, ao fim-de-semana, é tradição virem fazer "gincanas" para os passeios da célebre avenida, por entre as inúmeras filas de espera para os cinemas e os grupos de turistas endomingados que enchem os cabarets e os restaurantes.
Neste fim-de-semana de "todos os perigos", como dizem alguns comentadores, o controlo começa de forma preventiva nos subúrbios, nas estações de metro e de comboio e nas linhas de autocarro que vão até Paris. Três mil homens patrulham a capital, mas mostram-se discretos por entre a multidão normal dos fins-de-semana. No entanto, não há avenida ou ponto nevrálgico da capital onde não se vejam estacionados autocarros da polícia de intervenção. Ao fim do dia, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, foi aos Campos-Elísios inspeccionar o dispositivo de segurança. Mas, no ministério, depositava-se alguma esperança no efeito dissuasivo do frio e a chuva, conjugado com o interesse pelo jogo de futebol França-Alemanha, transmitido na televisão

Violência longe da capitalFoi em Lyon, a terceira maior cidade de França, que rebentarem incidentes graves de tarde. Uns 50 jovens lançaram projécteis contra a polícia, que replicou com granadas lacrimogéneas. Os confrontos começaram por volta das 15 horas na praça central de Lyon. Os jovens puseram a saque algumas lojas e danificaram vários carros a pontapé. É nesta região de Rhône que se registam, desde há duas noites, os incidentes mais graves, com 101 carros incendiados só na noite de sexta-feira para sábado. Uma situação o que levou o prefeito do Rhône a decretar o recolher obrigatório em 11 cidades, para os menores de 16 anos. Ao todo, há agora sete regiões com cidades ou bairros sob recolher obrigatório para os menores.
A situação de motins entrou numa fase muito delicada, este fim-de-semana, com elementos esparsos a criarem um clima instável. A 16ª noite consecutiva de violência foi marcada pelo recrudescimento dos distúrbios na província, onde 416 viaturas foram incendiadas, em contraste com um claro refluxo na região parisiense, onde a violência urbana se traduziu em 86 carros queimados. Em comparação, na noite anterior tinha havido 463 carros incendiados em França, 111 dos quais na região da capital. Dois polícias ficaram feridos, um deles gravemente, com a explosão de um cocktail Molotov no rosto.

Mesquita vandalizadaHouve depois uma agressão com cocktails Molotov contra uma mesquita, em Carpentras, no sudeste, onde rezavam duas centenas de fiéis. Para a organização SOS-Racismo, é um acto de "incitação ao ódio racial e religioso". O Presidente da República, Jacques Chirac, condenou esta agressão e exprimiu a sua "solidariedade com a comunidade muçulmana da cidade". O prefeito, Hugues Parant, deslocou-se logo à mesquita, onde afirmou que a polícia procura "activamente" um jovem de 14 a 16 anos visto a atirar as bombas incendiárias: "É inadmissível que um local de culto religioso seja atacado, seja qual for o culto", disse o prefeito do Vaucluse (nome da região de Carpentras).
Por fim, os sindicatos de polícia protestam contra a detenção de um polícia e a suspensão de quatro outros que foram filmados a espancarem um jovem de 19 anos imobilizado no chão, há uma semana. O jovem, que tinha acabado de ser libertado, saiu da esquadra a insultar os polícias e começou logo a apedrejá-los. Os cinco homens deitaram-no então ao chão e, durante longos minutos, espancaram-no a pontapé. Ontem, depois da suspensão dos cinco funcionários, o jovem foi preso em casa, de manhã: a polícia afirma que ele foi identificado, durante a noite, a apedrejar um carro de bombeiros. Os sindicatos de polícia consideram que as sanções "são desproporcionadas e injustas" e, recordando a 16ª noite de motins, acrescentam: "Os polícias estão fartos. Há uma tensão palpável nas esquadras, e nós compreendemos isso".

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