Final feliz para a segunda curta- -metragem de Regina Pessoa

História Trágica com Final Feliz é uma coprodução com o canal Arte, os estúdios Folimage e o Office National du Film do Canadá

É outra vez a história de uma menina, mas esta não tem medo do escuro (embora à noite também se esconda debaixo do cobertor): tem só um coração que bate muito mais depressa e muito mais alto do que o das outras pessoas. Mas além da menina, além do cobertor e além da técnica (a gravura), há outras coisas em comum entre História Trágica com Final Feliz, a segunda curta-metragem de Regina Pessoa cuja antestreia estava marcada para ontem no Porto, e A Noite (1999): ambas as histórias aconteceram apesar de um chumbo do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM). Mas desta vez Regina Pessoa já tinha três prémios antes mesmo de começar a filmar.Em bom rigor, o projecto de História Trágica com Final Feliz é anterior à primeira curta da realizadora. "Comecei a escrever a história quando ainda andava nas Belas-Artes, muito antes de pensar em cinema. Escrevia uma frase, fazia uma gravura; outra frase, outra gravura. Cada imagem puxava uma nova imagem e uma nova frase. No fim, meti a história na gaveta", explicou ao PÚBLICO. Tirou-a de lá quando começou a pensar no que havia de fazer depois de A Noite: "Candidatei-me a um apoio do ICAM, mas o projecto foi recusado e voltou para a gaveta. Meses depois, recebi um e-mail do Festival de Annecy sobre a abertura de um concurso de projectos. Como não tinha nada a perder, enviei o dossier", acrescenta.
Resultado: um telefonema a anunciar o prémio Société des Auteurs et Compositeurs Dramatiques, um e-mail a anunciar o prémio Arte ("uma pré-compra que permitia já despertar o interesse para a produção"), e, já em Annecy, uma voz no palco a anunciar o prémio Laboratoire GTC Numérique. "O filme ganhou bastante visibilidade e despertou interesse em muitos produtores estrangeiros, a começar pelos estúdios Folimage, que me convidaram a integrar o programa Artistes en Résidence", conta Regina. Entre 2001 e 2003, enquanto a realizadora portuguesa ia filmando em Valences, o consórcio que produziu o filme continuou a alargar-se: à Arte, à Folimage e à produtora portuguesa, a Ciclope de Abi Feijó, juntou-se o Office National du Film do Canadá, que se comprometeu a financiar a banda sonora e a mistura. E entretanto, à segunda tentativa, o ICAM atribuiu um apoio ao projecto.
Tal como a curta anterior, História Trágica com Final Feliz foi um processo lento e particularmente minucioso. Embora a técnica não seja exactamente igual - Regina preferiu fazer a raspagem com tinta da china em papel tradicional, o que lhe permitiu conservar todos os desenhos originais, agora expostos na Casa da Animação -, o grafismo é semelhante e a realizadora gosta disso. "Sou a mesma pessoa, é natural que haja continuidade. Fico contente quando as pessoas reconhecem que é o mesmo grafismo e o mesmo imaginário", diz.
Depois da antestreia de ontem, o filme volta a passar no Cinanima, onde concorre ao Prémio António Gaio e na competição internacional: "Se não acontecer mais nada, já fico contente: já tive muitos prémios e muitos momentos altos. Isto tem sido um bocado como o título: uma história trágica com um final feliz. Quando o ICAM recusou o projecto, pensei que era o fim. Mas afinal era só o princípio".

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