Identificação dos jovens com Morangos Com Açúcar explica sucesso da série

A série dirigida a crianças e jovens que é líder de audiências no seu horário parecer ter a chave do sucesso na facilidade de identificação dos jovens com todo o ambiente e com a abordagem aberta de temas que têm sido tabu. O fenómeno é de tal dimensão que suporta várias actividades culturais associadas e uma florescente actividade de venda de produtos com a marca Morangos Com Açúcar.

O que faz o êxito de Morangos com Açúcar? Ideia comum entre os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO é que os jovens se identificam muito facilmente com as "tribos urbanas" representadas na série, como lhes chama Isabel Férin, da Universidade de Coimbra. A música, as bandas e o desporto têm uma influência central na vida dos jovens e são uma componente a que os argumentistas, os produtores e os realizadores têm dado muita atenção, consideram.O sociólogo Paquete de Oliveira, embora tenha um conhecimento muito superficial da série, pensa que esta é um "produto muito bem concebido para as audiências que tem. É simples, flexível e adaptado às problemáticas actuais dos jovens". Segundo este sociólogo, o guião da série é "muito livre e as personagens têm uma capacidade híbrida muito grande".
Para explicar a capacidade de conquistar audiências, Paquete de Oliveira acredita que este fenómeno acontece porque os jovens se identificam com as situações relatadas em cada um dos episódios. "Os conflitos, os namoros, as amizades e todas as situações que os personagens vivem são pontos de identificação para os jovens telespectadores", afirma.
Continuando o seu raciocínio, Paquete de Oliveira, argumenta que a série mostra "jovens com boa aparência física e com facilidades financeiras, o que não representa muito bem a generalidade dos jovens da nossa sociedade, mas faz com que estes tentem ser como eles".
Embora a televisão não tenha, obrigatoriamente, a função de educar a sociedade, essa função está praticamente implícita ao seu funcionamento. "Na série são abordados assuntos bastante interessantes e que eram considerados tabu, como por exemplo o sexo e as relações sexuais entre os jovens, a droga e outros assuntos considerados problemáticos e que não eram discutidos antigamente".
A série levanta novas questões, aborda assuntos "escondidos" e obriga as pessoas a pensar neles e a encontrar respostas. "Em parte, a televisão e a série Morangos Com Açúcar funcionam de forma didáctica", explica o sociólogo, "abordando diversos temas e ajudando a explicá-los e a ultrapassá-los".
Para Isabel Ferin, professora de sociologia na Universidade de Coimbra, a série é tecnicamente superior às anteriores, pois "o guião está muito bem elaborado e o perfil dos actores/personagens é homogéneo, o que se revela uma escolha muito acertada". A capacidade de introdução de temas do quotidiano e a informação de âmbito social que a série apresenta fazem com que os jovens espectadores se identifiquem facilmente com as situações descritas e com os estilos de vida apresentados, que são o sonho de qualquer jovem da nossa sociedade.
O padrão do corpo, da beleza, as situações sociais que afligem os jovens, os temas polémicos, como o sexo e as drogas, os problemas familiares, são alguns dos temas da vida real apresentados na série que fazem com que os jovens espectadores se sintam integrados e se identifiquem com os seus ídolos. "Trata alguns problemas que afectam os jovens a nível universal, jogando com as grandes expectativas de ascensão social da classe média baixa", afirma Isabel Ferin, que está actualmente a participar num projecto internacional designado Observatório Ibero-Americano de Televisão, que analisa os conteúdos dos canais de televisão da península Ibérica e da América Latina.
No âmbito deste projecto, "o fenómeno de identificação maciça com séries de televisão é muito frequente nos países da América Latina. E Portugal, apesar de ser um país europeu, tem muitas ligações com esses países e revela também uma grande aproximação e até imitação dos jovens".
Nuno Brandão, professor universitário e sociólogo, afirma que o projecto da série está "bem adequado e adaptado ao público juvenil e ao seio familiar, por fazer um enquadramento sociológico dos jovens e abordar temas considerados tabu". A série, ainda segundo o sociólogo, "retrata a realidade que envolve os nossos jovens e não se limita a abordar só o lado feliz ou infeliz da vida".
Para Nuno Brandão, "o emissor (a televisão) procura atingir o seu público-alvo e o receptor (o telespectador) sente-se retratado na série". Os jovens identificam-se com as personagens, com as situações que elas vivem e com os temas e questões que verdadeiramente lhes interessam, sentindo-se integrados.

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