Escultura performativa de Fernanda Fragateiro estreada em Viseu

Caixa para Guardar o Vazio é a mais recente criação da artista plástica, em resposta a um desafio lançado pelo Teatro Viriato

A artista plástica Fernanda Fragateiro criou uma Caixa para Guardar o Vazio, onde corpos vão "criando o espaço". A escultura, em madeira, espelho e aço, é "um lugar para explorar", num processo de descoberta individual ou colectiva. Pensada para crianças, a "instalação" é activada pelos corpos de dois bailarinos que, com os seus movimentos, revelam o interior da peça. A primeira "descoberta" vai acontecer a 15 de Outubro, em Viseu, no Lar-Escola de Santo António, onde a "caixa" se manterá até 14 de Dezembro. "Caixa para Guardar o Vazio contém duas esculturas: uma é um objecto de madeira, outra é um tapete preto. Além desta matéria, a obra é composta por uma vertente performativa", explicou a artista plástica, anteontem, em conferência de imprensa, no Teatro Viriato (produtor do projecto). A "instalação" surge como uma caixa fechada, que se vai abrindo através da coreografia - pensada por Aldara Bizarro - de dois bailarinos.
"O movimento dos bailarinos é muito poético, vai criando o espaço, os ângulos, as formas", realçou Fernanda Fragateiro. Um dos corpos habita o espaço interior da escultura, o outro habita o exterior. O movimento de ambos chama o público, que é convidado a activar a caixa. Bailarinos e visitantes são eles próprios "matéria de construção" da peça. Nesse momento a instalação começa a revelar-se e uma perna salta para o exterior... Os gestos constroem o espaço, que se "abre, dobra, desdobra e expande", conduzindo a uma "multiplicidade de vistas" da escultura. "O público não consegue ver, mas consegue escutar o interior, porque há um bailarino lá dentro que percorre o espaço, anda, respira, toca a superfície, que contacta com o público cá fora", acrescenta Fragateiro.
O movimento culmina com a revelação do interior. Quando entram, as crianças descobrem que a caixa está vazia. "Aí eles encontram-se consigo próprios! Não há nada dentro da peça, não há ninguém. Vão ao encontro de uma voz que ouviram e que sabem que não é uma gravação, é de alguém que está lá dentro", resume a artista plástica.
O desafio foi lançado pelo Serviço Educativo do Teatro Viriato, que sugeriu que "o conceito a desenvolver fosse eminentemente plástico". Obcecada pelo espaço, Fragateiro pensou uma escultura para que "ela própria, com os corpos, construísse o espaço, de uma forma muito poética". "Quis que este projecto se pudesse constituir como uma experiência forte, como ler um poema. A peça quer convocar a flexibilidade que as crianças têm. Gostava que se constituísse como uma experiência/aprendizagem de uma coisa boa", sublinhou.
Em Viseu, a Caixa para Guardar o Vazio está instalada no recreio do Lar-Escola de Santo António, onde vivem 60 crianças, que têm ajudado nos ensaios dos bailarinos. Apesar de ter sido pensada para elas, nomeadamente na sua vertente performativa, a escultura é "visitável por adultos".
A "instalação" irá depois percorrer o país, passando por Guimarães (3 Janeiro a 3 Março de 2006), Aveiro (16 Março a 16 Maio de 2006), Santa Maria da Feira (22 Maio a 29 Julho de 2006), Guarda (2 Outubro a 25 Novembro de 2006) e Lisboa (Janeiro a Março de 2007), onde será montada em "espaços de fruição cultural".

Sugerir correcção