Jazz norte-americano domina Festival Angrajazz

Dave Holland e a Preservation Hall Jazz Band são os nomes fortes da programação

Começa hoje em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, a sétima edição do Angrajazz. Assumidamente generalista, o evento, dizem os organizadores, tem como objectivo principal a divulgação e o desenvolvimento do gosto pelo jazz no arquipélago, pretendendo ainda marcar presença no calendário anual dos festivais portugueses. Sendo da iniciativa da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e da Associação Cultural Angrajazz, a parceria pretende ainda promover acções de formação destinadas a bandas locais, assim como conferências, exposições de instrumentos, de fotografia, e feiras do disco, entre outras iniciativas. É neste espírito que se funda a Orquestra Angrajazz, que inaugura o festival deste ano, constituída por 19 músicos amadores da Ilha Terceira, e dirigida por Pedro Moreira e Claus Nymark.
O festival tem vindo a alargar a sua programação - em 1999 estreou-se com apenas quatro concertos, mas desde 2002 eram já sete. Os concertos realizam-se no Centro Cultural de Congressos de Angra do Heroísmo, com capacidade para 600 pessoas, onde se pretende recriar o intimismo de um clube de jazz. Nos últimos anos o festival tem contado com a presença de cerca de 2000 pessoas em média, oriundas principalmente do arquipélago, mas com uma afluência cada vez mais significativa de entusiastas do continente.
A programação deste ano segue a estratégia de anos anteriores, apostando principalmente na participação norte-americana, mais pela proximidade contaminante do que pela falta de propostas alternativas. No entanto, a direcção artística faz questão em contar com a presença de pelo menos dois grupos nacionais, um dos quais composto por músicos da região.
Este ano, a actuação de duas orquestras nacionais (Orquestra de Jazz do Funchal e a Orquestra Angrajazz - hoje às 21h30 e 23h30, respectivamente) serve de contraponto estético entre os dois arquipélagos (embora as suas direcções artísticas se sobreponham). Mas a formação em trio domina a programação com três agrupamentos: um trio clássico de piano a cargo do novaiorquino Bill Charlap (domingo, 21h30), em cuja experiência musical cabem os nomes de Phil Wood e Tony Bennett, assim como duas formações menos convencionais. Em primeiro lugar, a parceria luso-brasileira, TGB (amanhã, 23h30) onde a tuba (Sérgio Carolino) substitui o contrabaixo e a guitarra (Mário Delgado) substitui o piano, estando a bateria a cargo do brasileiro Alexandre Frazão. Em segundo, o trio do violinista Didier Lockwood (amanhã, 21h30) visita o repertório do lendário Stéphan Grappelli, ícone da escola de swing francesa.
A noite dedicada à voz fica a cargo de Sheila Jordan (sábado, 21h30) discípula de Charles Mingus e Lennie Tristano e cuja abrangente carreira faz a ponte entre o be bop e a contemporaneidade de Carla Bley, e George Russell. A cantora é acompanhada por um trio onde Steve Kuhn se distingue ao piano.
Os dois grandes destaques deste ano são o quinteto liderado pelo contrabaixista inglês Dave Holland (sábado, 23h30), instrumentista e compositor de renome, cuja carreira inclui a presença de grandes nomes do jazz contemporâneo, e finalmente a Preservation Hall Jazz Band (domingo, 23h30) que nos traz o que resta da incontornável herança da cultura de Nova Orleães, berço do jazz e tronco principal das mil e uma ramificações estilísticas ao qual o jazz se tem vindo a sujeitar ao longo de um século da sua existência. Assim, o Angrajazz torna-se numa visita imprescindível onde o passado e a actualidade, a América e a Europa, convergem em pleno Atlântico.

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