Movimento quer reabilitar ferrovia da Alfândega do Porto

Objectivo é ligar
a zona ribeirinha do Porto a Campanhã em cinco minutos. Há quem sonhe numa ligação turística ferroviária até ao Pinhão

Chama-se GARRA (Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega) o movimento cívico que quer aproveitar o canal ferroviário que liga a Estação de Campanhã à zona ribeirinha para o integrar na rede suburbana do Porto. O objectivo é criar uma circular ferroviária à volta da cidade, pondo o comboio a ligar Leixões à Alfândega.Emídeo Gardé, um dos fundadores do grupo, diz que pretende colocar a questão do ramal na discussão das eleições autárquicas e da mobilidade no Porto, lembrando que se trata de uma infra-estrutura secular que ainda poderá servir às gerações do século XXI.
O ramal foi construído em 1887 e, durante 3,9 quilómetros, percorre a escarpa da margem direita do Douro, numa quota abaixo da linha S. Bento-Campanhã, entrando em túnel perto da Ponte do Infante e terminando no actual parque de estacionamento da Alfândega. A linha sempre foi utilizada para transporte de mercadorias e foi encerrada em 1989, numa altura em que só esporadicamente lá circulava algum comboio.

Solução de baixo custoO GARRA diz que uma das vantagens desta proposta é o baixo custo da reabilitação, sobretudo quando comparado com o das novas linhas do metro, pois o espaço-canal já existe e os túneis (que hoje seriam a obra mais cara e mais complexa) também já lá estão. Deste modo, bastariam três ou quatro milhões de euros - e um período de obras relativamente curto - para ligar em cinco minutos o centro histórico da Invicta, a área património da humanidade e a zona ribeirinha, à estação intermodal de Campanhã, a partir da qual irradiam as redes local, regional e nacional de transportes.
"Preferencialmente, o ramal da Alfândega deverá ser utilizado como prolongamento da linha Leixões-Campanhã [actualmente só utilizada para mercadorias], obtendo-se assim 5/8 de um anel de transportes sobre carris à volta da cidade", diz Emídeo Gardé, para quem este investimento "poderia ser uma contribuição fundamental para a reabilitação social e económica da Baixa do Porto". Por exemplo, facilita a possibilidade de realizar comboios turísticos na zona histórica da Invicta, havendo mesmo quem, no GARRA, se permita sonhar alto com a criação de comboios históricos da Alfândega ao Pinhão, na Linha do Douro, aumentando e integrando a oferta turística que já existe ao nível fluvial.
O GARRA define-se como "um grupo de pessoas que se interessam pela mobilidade e transportes públicos no Porto". O movimento foi criado há três semanas, após um passeio pelo ramal da Alfândega realizado por um grupo de amigos que fez todo o percurso, incluindo os seus três túneis abandonados. Gardé faz notar que o túnel de 1200 metros foi o primeiro grande túnel ferroviário do Porto, construído dez anos antes do de S. Bento.
A antiga estação da Alfândega já não existe e as linhas que lhe davam acesso ficaram debaixo do alcatrão do parque de estacionamento entretanto ali construído. O túnel é facilmente visível, mas está tapado com uma chapa metálica porque era local de consumo de drogas.
O grupo já tem site na Internet (garra.pt.la) e elegeu como prioridade dar a conhecer a existência do ramal e trazê-lo à discussão pública, pois a maioria das pessoas não sabe que existe ali uma infra-estrutura secular desaproveitada. Os próximos passos são os de procurar obter a posição da Refer (proprietária daquele corredor ferroviário) e da CP, bem como da Metro, da Câmara do Porto, da SRU Porto Vivo, da Associação Comercial e da Junta de Freguesia de Miragaia sobre esta ideia simples.
O debate poderá ser potenciado com a campanha eleitoral para as autárquicas, embora o GARRA tenha como adquirido que, em última instância, as decisões políticas dependerão dos estudos de procura que venham a ser feitos para este hipotético corredor ferroviário.

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