Movimento da Escola Moderna "culpa" ensino tradicional pelo insucesso dos alunos

Mais de três mil professores estão ligados ao movimento, que celebra este ano
o 40.º aniversário

Em Portugal há pelo menos três mil professores que conhecem e aplicam, nos estabelecimentos de ensino convencionais, a metodologia do Movimento da Escola Moderna nas suas aulas, estimulando os alunos a uma "vivência democrática" da sua aprendizagem. O ensino tradicional tem feito as suas "vítimas" por entre os estudantes que têm insucesso, critica Sérgio Niza, um dos fundadores deste movimento de professores que aposta numa maior participação dos alunos no processo de aprendizagem.A partir de hoje e durante quatro dias, o movimento vai reunir-se em congresso, em Lisboa, para debater e dar a conhecer o trabalho que realizam. A organização celebra este ano o 40.º aniversário.
Foi em 1965 que Sérgio Niza - que actualmente é professor universitário no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e membro do conselho científico e pedagógico da Formação Contínua dos Professores -, sugeriu a um pequeno grupo de docentes que reflectissem sobre a profissão.
Ao longos dos anos a reflexão foi dando origem a novas práticas com as quais os professores procuram combater o modelo de escola tradicional, em que todos os alunos aprendem em simultâneo, explica Niza.
"Temos perenizado uma forma de organização de trabalho na escola que foi imaginado no século XVII. Como é que uma estrutura de relação professor/aluno tão velha se mantém para dar resposta à vida contemporânea?", questiona o investigador, que considera que muito do insucesso dos alunos se deve a um modelo de escola já "caduco".
O movimento concebe a escola como uma unidade que garante o desenvolvimento sócio-moral dos alunos. Os professores fazem a defesa da "socialização democrática", ou seja, da escola como construtora de valores democráticos e de cooperação.
Esta teoria pode ser aplicada do pré-escolar ao ensino superior, mas é sobretudo no 1.º ciclo que tem sido mais desenvolvida porque aí os docentes têm uma "maior liberdade" de acção, justifica Niza.
A intenção é pôr os alunos a trabalhar com os professores no planeamento das actividades curriculares, mas também na sua aprendizagem e na avaliação. Desta maneira, os estudantes têm a experiência da "vivência directa" das aprendizagens, que se tornam mais eficazes, defende Sérgio Niza.

"A melhor maneira de aprender é ensinando"
Em termos práticos, professor e estudantes reúnem-se no chamado "conselho de cooperação" para planear o trabalho que vão realizar, com base no currículo oficial, comum a todo o ensino.
Cada aluno traça o seu plano de trabalho autónomo, que o professor vai acompanhando de maneira a evitar que acumule dificuldades. O movimento luta contra o insucesso escolar; defende, por isso, que se deve trabalhar de modo diferenciado com cada estudante, tendo em conta as capacidades de cada um.
Este trabalho deve ser feito sempre em clima de cooperação, não só entre o docente e o aluno, mas entre pares, salvaguarda Niza. "Para conseguir um objectivo é necessário que todos o atinjam", explica. Por isso, os estudantes comprometem-se a ajudarem-se uns aos outros. Este acordo não penaliza os melhores alunos, garante Sérgio Niza. "A melhor maneira de aprender é ensinando. Podemos garantir que os alunos mais brilhantes avançam ainda mais quando têm de procurar estratégias de partilha do seu saber com os outros", refere.
A turma não tem de usar manuais escolares mas tem de ter disponíveis diversos recursos, como livros, dicionários, gramáticas, fichas para investigar, de maneira a que os estudantes compreendam que não há apenas uma fonte de conhecimento.
Os alunos cumprem os mesmos momentos de avaliação que os demais, nomeadamente os testes escritos. A partir do estudo regular, os professores procuram fazê-los compreender como é que se constrói uma prova escrita. "Pedimos aos alunos para, quando estão a estudar, colocarem as perguntas que consideram pertinentes sobre a matéria", explica o investigador, acrescentando que deste modo se "desdramatiza" o exame.
Este método de trabalho requer "uma maior atenção" por parte dos professores, reconhece Sérgio Niza. O docente tem de ser um "bom gestor de tempos e da organização de trabalhos diferenciados". O movimento dá formação aos professores.

Sugerir correcção