Metheny de regresso em peregrinação pelas origens

Guitarrista apresenta em Portugal The Way Up, obra que recupera alguns dos valores matriciais de um percurso de 30 anos

Pat Metheny está de volta e, como sempre acontece em cada regresso, a pergunta impõe-se: que face vai revelar desta vez o guitarrista? Com as inspirações iniciais registadas no catálogo ECM remetidas para a categoria da memória, com as cedências à pop nos anos da etiqueta Geffen recordadas apenas pelos impressionantes números das vendas, com o experimentalismo com o qual prestou tributo a Ornette Coleman (uma dos seus ídolos do jazz) em permanente stand-by, Pat Metheny apresenta-se nesta dupla de concertos em Portugal - nos Coliseus, do Porto, hoje, e de Lisboa, amanhã - com uma viagem pelas origens que sugere uma nova síntese da sua carreira.Tendo como base para os concertos portugueses o repertório de The Way Up, Metheny garante ainda à sua legião de fãs uma das mais impressionantes máquinas de produzir música ao vivo: o seu grupo multinacional, que, apesar de renovado, insiste na permanência do inseparável Lyle Mays e do imprescindível Steve Rodby.
Em todas as suas passagens por Portugal, Metheny cometeu sempre a proeza de esgotar as salas por onde passou. O que se pode explicar pela sua impressionante capacidade técnica como guitarrista. Ou pela sua persistente preocupação em associar a tradição da guitarra acústica ou electrificada às novas tecnologias. Mas, principalmente, por ser capaz de fazer a ponte entre os ouvidos mais "exigentes" dos apreciadores de jazz e os que não toleram a música alheada da melodia. Para uns e outros, Pat construiu uma linguagem nova, aberta aos ritmos do Brasil e à improvisação contemporânea, variando entre a balada da guitarra acústica e o solo mais intenso, entre as composições ligeiras e peças conceptuais de grande envergadura. Pat é, por isso, frequentemente citado nas principais revistas de jazz, mas entre a sua coluna de devotos há gente de todas as latitudes - Zero Tolerance for Silence, de 1994, foi considerado pelo guitarrista dos Sonic Youth, Thurston Moore, como "um novo marco na história da guitarra eléctrica".
The Way Up, o disco do princípio do ano que está na base da actual digressão do Pat Metheny Group, não diverge em absoluto da matriz das obras anteriores assinadas em nome deste colectivo, mas está mais próximo da inspiração original de Bright Size Life do que das diversões dos anos 80 e 90 do estilo Still Life (Talking) - excluindo, obviamente, as obras conceptuais como Song X ou Zero Tolerance for Silence. O ambiente liberal e erudito do jazz sobrepõe-se neste registo de uma só peça aos refrões rígidos mais associados à música popular, os solos de guitarra ou de piano expõem-se sem cedências aos tempos hierarquizados da estrutura da composição. Mas, o que é permanente na estética do guitarrista, a devoção à melodia e ao ritmo, não deixam de se revelar ao longo da obra.
Relatos da imprensa internacional indicam que os concertos em torno de The Way Up absorverão entre 40 a 50 minutos do concerto - no registo discográfico ocupa 68 minutos. Os saudosistas de Are You Going With Me ou de Last Train Home terão, portanto, razões para não perder estes concertos. Mas, quem alguma vez viu o Pat Metheny Group ao vivo sabe que estes momentos são os mais apropriados para se viver a música do guitarrista, que continua muito bem acompanhado (Cong Vu na trompete e voz, Mays no piano, o suíço Gregoire Maret na harmónica, António Sanchez na bateria e o repetente Steve Rodby no baixo).

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