Couto mineiro de Aljustrel sob ameaça de encerramento

Trabalhadores não aceitam acordo, após empresa se comprometer a retomar extracção mineira durante
este mês

A empresa canadiana Eurozinc, que detém a concessão do couto mineiro de Aljustrel, ameaça encerrar a mina e despedir todos os trabalhadores se estes não aceitarem um acordo que exige a laboração contínua e a paz social na empresa durante cinco anos.O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM) avisa que este modelo de laboração já demonstrou ser ineficaz na mina de Neves Corvo. "Aumentou o número de acidentes de trabalho bem como a taxa de absentismo", lembra Carlos Formoso, presidente do STIM. O sindicalista disse que a proposta apresentada pela Eurozinc "é um ultimato" que os trabalhadores não aceitam e acusa a empresa mineira de querer um acordo "sem dar a conhecer o horário de trabalho e as contrapartidas em termos remuneratórios".
A Eurozinc fez saber, segundo o sindicalista, que se não fosse assinado o acordo "havia um despedimento colectivo e encerrava a mina". Se tal vier a acontecer as galerias ficarão alagadas, uma consequência que tem alguma similitude com o que aconteceu na mina de S. Domingos, em Mértola, quando a mina foi encerrada em 1964. Neste momento, os cerca de 70 trabalhadores que permanecem na mina de Aljustrel desempenham funções de manutenção das instalações e equipamentos, entre elas a extracção das águas ácidas que se formam nas galerias.
Carlos Formoso considera o comportamento da Eurozinc lesivo do Estado português, argumentando que a empresa canadiana só detém a concessão da exploração "mas não é dona da mina para ameaçar com o seu encerramento".
A Eurozinc alega que o acordo de princípios era uma exigência dos investidores estrangeiros, que se propõem financiar a retoma da actividade mineira em Aljustrel. Instado a comentar as afirmações do STIM, Rui Botica Santos, advogado da Eurozinc, que tem participado nas negociações com os trabalhadores, confirmou que a empresa canadiana apresentou um acordo de princípios que contempla apenas os dois pontos que são referidos pelo STIM, admitindo que se trata de "pontos sensíveis".
Mas tanto para a Eurozinc como para os financiadores do projecto de reabertura da mina, a exigência de paz social na empresa durante cinco anos e o regime de trabalho contínuo "são decisivos", acentua Botica Santos. O representante da Eurozinc explicou que tanto as entidades bancárias como financiadores estrangeiros que se disponibilizam a investir na mina de Aljustrel "só põem dinheiro se houver garantias de reembolso", que passam pela aceitação por parte dos trabalhadores do acordo.
Botica Santos sustenta que a exploração de minério em Aljustrel é, no contexto internacional, "um projecto modesto" e que os investidores "fazem uma ideia muito distante de Portugal". Desta forma o financiamento só aparece "mediante a aplicação de determinadas condições".
"Não vale a pena estarmos a perder tempo", adverte Botica Santos, caso o acordo não seja aprovado. Mas se os trabalhadores reconsiderarem em função dos interesses da Eurozinc, a empresa canadiana compromete-se a aplicar um aumento salarial, imediato, de 15 por cento, e mais actualizações nos anos subsequentes ao nível da inflação. Esta proposta também não foi aceite pelos trabalhadores. O impasse que se verifica neste momento já comprometeu a retoma da actividade mineira durante o mês de Junho, conforme promessa feita publicamente, a 7 de Abril passado, em Aljustrel.

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