G8 perdoa a dívida de 18 países pobres, na maioria africanos

Os ministros das Finanças dos estados mais industrializados do mundo chegaram
a um acordo histórico no valor de 32.700 milhões de euros

Os países mais ricos do mundo concluíram ontem em Londres um acordo histórico para perdoar a dívida de 18 dos estados mais pobres, 14 dos quais africanos. O compromisso anunciado ao princípio da tarde pelo primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, que é nesta altura o presidente da União Europeia (UE), faz parte de uma campanha conduzida pelo Governo britânico no sentido de libertar a África subsariana da pobreza e das doenças que anualmente matam milhões de pessoas.O ministro das Finanças, Gordon Brown, principal protagonista desta campanha, disse que todos os seus colegas do G8 (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão e Rússia) decidiram cancelar dívidas no valor de 40.000 milhões de dólares (cerca de 32.700 milhões de euros), incluindo à Bolívia, um dos Países Pobres Altamente Endividados (HIPC, na sigla inglesa). Brown, que tinha defendido um "novo Plano Marshall", a lembrar o que os Estados Unidos elaboraram para a Europa depois da II Guerra Mundial, afirmou que países como o Burkina Faso e a Etiópia vão beneficiar imediatamente de 100 por cento do perdão daquilo que devem ao Banco Mundial (BM), ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
Duas dezenas de outros países poderão vir a ser mais tarde igualmente beneficiados se forem capazes de cumprir critérios de boa governação e de combate à corrupção, elevando então o perdão total das dívidas a mais de 55.000 milhões de dólares (45.000 milhões de euros).
Os fundos agora libertados do perdão da dívida de alguns dos estados mais pobres vão servir para utilização na saúde, na educação e no desenvolvimento, de modo a que nesses países se possa passar a viver melhor. Actualmente, o Produto Nacional Bruto per capita dos Estados Unidos, da Dinamarca ou da Áustria é cerca de 40 vezes superior ao de Madagáscar, um dos 18 países que vão beneficiar da decisão histórica ontem tomada em Londres.
O Reino Unido, que no mês de Julho recebe na Escócia uma cimeira do G8, prometeu fazer da redução universal da pobreza uma das suas prioridades, tendo procurado para isso o apoio do Presidente George W. Bush. Segundo o que foi combinado, o BM, o FMI e o BAD vão anular 100 por cento da dívida de 18 países.
"O tempo não é de timidez", proclamou Brown ao anunciar o triunfo do seu plano, enquanto John Nagenda, conselheiro do Presidente ugandês,Yoweri Museveni, declarava à BBC ficar à espera de que os países mais desenvolvidos cumpram tudo o que acabam de prometer.
Os cantores irlandeses Bono e Bob Geldof saudaram com entusiasmo o acordo. "A viagem para a igualdade deu hoje [ontem] mais um passo, libertando milhões de pessoas nos países mais pobres do jugo imoral e injusto da dívida", afirmou Bono, vocalista dos U2. Para Bob Geldof, "pela primeira vez na sua vida, 280 milhões de africanos vão acordar amanhã sem dever um cêntimo do fardo da dívida que os limita, e aos seus países, há muito tempo".
Nem todas as reacções foram tão positivas. "O acordo é muito bom para as pessoas dos 18 países, mas pouco fará para ajudar de imediato milhões em pelo menos 40 outros países que também necessitam de perdão da dívida", comentou Romilly Greenhill, do grupo humanitário ActionAid, pensando em casos como os do Bangladesh, Camboja, Guiné Equatorial, Eritreia, Haiti ou Nepal.

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