A influência da fotografia na pintura do naturalista João Vaz

João Vaz é um paisagista que retrata a costa portuguesa, percorrendo o país de mochila às costas

São 105 obras para a primeira exposição monográfica relevante dedicada ao pintor naturalista João Vaz desde a sua morte. Vaz é um dos membros fundadores do famoso Grupo do Leão, que proclamou uma nova estética para a pintura no final do século XIX - o naturalismo.A investigação feita para a exposição João Vaz (1859-1931). Um Pintor do Naturalismo, que é hoje inaugurada às 18h30 na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, em Lisboa, conseguiu identificar 420 obras, entre pinturas e desenhos. "A outra grande exposição monográfica foi feita em 1932 na Sociedade Nacional de Belas-Artes, depois da morte do pintor, mas não tinha a exigência científica desta", diz Isabel Falcão, comissária da exposição juntamente com José António Proença. Uma das surpresas, diz Falcão, é ter encontrado uma proximidade tão grande entre o espólio fotográfico reunido pelo pintor e a sua pintura.
João José Vaz nasceu a 9 de Março de 1859, em Setúbal, numa família da média burguesia comercial da cidade. É um paisagista, como quase todos os naturalistas, que se interessa sobretudo pela paisagem marítima. "Ele é marinhista. Talvez por ter sido criado perto do Sado", diz José António Proença. Por isso, a exposição abre com várias marinhas, entre as quais está A Praia, uma das obras mais conhecidas do pintor e que pertence à casa-museu. Outra das novidades, diz Falcão, foi descobrir tanta paisagem retratada além das marinhas, como paisagens campestres e pequenos trechos urbanos.
Aos 21 anos, João Vaz faz parte dos fundadores do Grupo de Leão, um grupo de amigos, pintores recém-formados nas escolas de Belas-Artes e alguns bolseiros em Paris "com a vontade de apresentar novas condutas de criação, cientes da necessidade de olhar a natureza, de protagonizar, decididamente, a libertação da "ditadura" do atelier", escreve Isabel Falcão no catálogo. Vaz está presente na primeira exposição histórica do naturalismo, a 1ª Exposição de Quadros Modernos, ou do Grupo do Leão. São 12 os fundadores do Grupo do Leão, com nomes como Silva Porto, Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro, Malhoa, António Ramalho.
Nas marinhas que abrem a exposição, Isabel Falcão aponta as características de muitas das suas composições: "São espaços amplos. Há geralmente ao fundo uma marcada linha de horizonte, que contrasta com o céu e com a extensão do areal ou do mar." Vaz percorre a costa do país com a sua mochila às costas, havendo várias povoações e regiões referidas nos títulos das suas obras.
O papel da fotografia
Isabel Falcão explica que a fotografia é um instrumento de trabalho para João Vaz, substituindo, nalguns casos, o trabalho preparatório do desenho. No espólio da família do pintor, há várias fotografias que foram transpostas para obras suas. É o caso de uma fotografia com um velho em frente ao Convento de Jesus em Setúbal ou de um grupo de crianças fotografadas no mar do Funchal. Há mais cerca de 20 exemplos. É uma prática comum nos pintores seus contemporâneos, mas Isabel Falcão diz que é "a primeira vez que vê uma proximidade tão grande entre o espólio fotográfico reunido pelo pintor e a sua obra pictórica".
A historiadora de arte Raquel Henriques da Silva diz que este é um resultado extremamente importante, "porque ajudará a clarificar zonas menos conhecidas da estética pictórica e da estética fotográfica, permitindo avaliar as trocas entre os dois meios e respectivas autonomias". Raquel Henriques da Silva cita um resultado semelhante saído da exposição monográfica dedicada a Alfredo Keil, acrescentando que se sabe que a pintora Aurélia de Sousa tem um espólio fotográfico importante, mas que este está ainda por inventariar.
Apesar de ser um dos fundadores do naturalismo, João Vaz não é um dos seus representantes mais amados pela história de arte, reconhece Isabel Falcão. A principal qualidade da pintura de João Vaz, segundo a comissária, é a luz: "Ele domina e percebe a luz. Consegue transpor essa luminosidade, trazê-la do simples apontamento de paisagem para o trabalho mais cuidado e acabado em atelier. Essa luz muito marítima, muito ribeirinha, João Vaz consegue-a trazer para as suas paisagens."
João Vaz (1859-1931). Um Pintor do Naturalismo
LISBOA Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Av. 5 de Outubro, 6. Tel. 213548754. 3ª das 14h às 18, de 4ª a dom. das 10h às 18h.

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