Sporting batido na final da Taça UEFA chora o desfazer de um sonho

CSKA de Moscovo gelou Alvalade com três golos depois de ter estado a perder e conquistou em Lisboa o primeiro troféu de uma equipa russa

Jorge Miguel Matias

Do sonho ao pesadelo foi questão de minutos. O Sporting perdeu ontem a final da Taça UEFA que disputava no seu estádio, deixando fugir a vantagem de um golo com que foi para o intervalo. Três remates certeiros dos russos na segunda parte garantiram a conquista do troféu ao CSKA e confirmaram o infortúnio leonino com equipas oriundas do extremo oposto da Europa: em três ocasiões perdeu sempre.Só os russos não partilhavam o desejo de quase todos os adeptos que encheram Alvalade. No final seria a marcha do Sporting a ecoar nas bancadas, momentos depois de os "leões" erguerem o seu segundo troféu europeu nos quase 100 anos de história do clube. Só que foi uma marcha militar russa a ouvir-se e já não havia quase ninguém para a escutar. O CSKA utilizou as armas que todos sabiam que possuía para derrotar um Sporting a que faltou fôlego e que acabou por falhar a conquista de uma taça que salvaria a época.
A eficácia dos lances de bola parada sempre estudados, a contundência dos seus contra-ataques e a solidez da sua defesa foram mais do que suficientes para o CSKA tornear o favoritismo que os "leões" detinham por disputarem o jogo decisivo no seu estádio. Pode dizer-se que o minuto 75 decidiu o jogo, quando o Sporting falhou a hipótese de colocar tudo como no início e permitiu o contra-ataque do CSKA, que não desperdiçou a oportunidade para matar o jogo. Mas a verdade é que, nessa fase, já o Sporting não era a equipa dominadora e confiante que iniciou a partida. Peseiro demorou a mexer no "onze" e quando mexeu fez escolhas controversas, não sendo capaz de injectar na equipa a velocidade que ela necessitava para deitar por terra uma defesa russa que só abria fendas se fosse confrontada com trocas de bola velozes.
A capacidade física (ou falta dela) da maior parte dos jogadores sportinguistas teve também influência no desfecho da partida. A segunda parte leonina foi realizada em plano inclinado, enquanto o CSKA a utilizou com a frieza própria de quem sabe quais são os seus trunfos e quando os deve jogar.
Ao Sporting de pouco valeu uma primeira parte bem jogada, durante a qual a bola quase nunca saiu dos pés dos seus jogadores. Foram oito cantos conquistados em apenas 45 minutos e muita pressão ofensiva. O CSKA não foi capaz, nesse período, de aplicar o seu temível contra-ataque e limitou-se a ver jogar. Parecia que estava a deixar os jogadores sportinguistas cansarem-se. Também é verdade que o Sporting não teve oportunidades claras de golo, pois os russos eram muito solidários a defender. Prova disso foi um lance em que Sá Pinto esteve quase a rematar para golo, mas no último instante deixou-se antecipar.
Assim, foi preciso um remate de fora da área de Rogério, após um ressalto ganho pelo brasileiro, para ultrapassar o trio de defesas centrais do CSKA e alimentar o sonho da conquista europeia do Sporting, que seria a terceira consecutiva de uma equipa portuguesa.
Só que a partir desse momento deixou de haver Sporting, que deu a ideia de que já tinha feito o que lhe tinha sido pedido. Os "leões" passaram a controlar mais do que a dominar. Passaram a jogar a final mais do que a querer ganhá-la, pois o triunfo, nessa altura, julgavam, era uma questão de minutos.
A poucos segundos do termo do primeiro tempo, um contra-ataque russo mal finalizado por Love foi premonitório do que estava para vir. O CSKA testou aí o que viria a aplicar no segundo tempo. E se é verdade que o Sporting podia ter resolvido a partida pouco depois de ter regressado dos balneários, quando não soube aproveitar um livre indirecto dentro da área moscovita, também foi evidente para todos que o CSKA vinha mais atrevido.
O Sporting mostrava falta de fôlego. Rochemback, que na primeira parte ainda conseguiu controlar Carvalho, desapareceu, Moutinho foi deixando de ter forças e descernimento, Liedson queria tanto marcar que não marcou. E Douala no banco?!
Um livre, estudado, deu aos russos o golo do empate (57"). Um contra-ataque russo, colocou-os em vantagem (66"). O CSKA utilizou as suas armas, ferindo um "leão" impotente.
Até que veio o minuto 75. Nem Tello, nem Rogério. Nem o poste de Alvalade ajudou a sua equipa. A bola acabou nas mãos de Akinfeev, instantes depois nos pés de Carvalho, segundos depois na baliza de Ricardo, impelida por Zhirkov. Que fim de época para o Sporting, quase campeão, quase vencedor da Taça UEFA. O sonho terminou num pesadelo.

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