Biblioteca Nacional de Espanha expõe 200 edições de D. Quixote

A primeira tradução
em português do livro de Miguel de Cervantes, impressa em 1794, integra a exposição

A primeira tradução portuguesa de D. Quixote está entre as mais de 200 edições do livro de Miguel Cervantes que estão em exibição na Biblioteca Nacional de Espanha, em Madrid. Esta exposição integra as comemorações do quarto centenário da publicação da obra.Essa primeira edição em português foi impressa em 1794 na tipografia Rollandiana, o que marca uma nova etapa na divulgação da obra em Portugal como leitura popular. Até então, em Portugal, as aventuras do cavaleiro tinham sido publicadas em castelhano. Esse é o caso da primeira edição lisboeta em castelhano, de 1605, que pode ser vista na exposição. Este é um exemplar, como todos os outros, oriundo dos 18 mil volumes dos fundos cerventinos da Biblioteca Nacional espanhola. A abrir esta primeira edição lisboeta, uma anotação: "Impresso com licença do Santo Officio por Jorge Rodriguez".
Para além de outra edição de 1617, também assinada por mestre Rodriguez, na exposição só há mais um caso do périplo de Quixote pela edição portuguesa: uma tradução dos Viscondes de Castilho e de Azevedo, com desenhos de Gustavo Doré e gravados de Pisan, do Porto, da "imprensa da Companhia Litteraria, 132 Campo dos Mártires da Pátria 1876-1878". Uma edição já marcada pelos efeitos da industrialização na impressão dos livros.
A proposta da comissária da exposição, Mercedes Dexeus, não é a de uma simples mostra exaustiva das sucessivas edições. O evento está organizado em cinco secções, que permitem acompanhar a evolução da edição: das edições vigiadas pelo Santo Ofício, como a primeira de 1605, à divulgação no século XX da obra de Cervantes. Estão ainda expostas as edições mais populares do século XVIII, originadas pelo interesse do público, ou o muito cuidado volume da casa Tonson, de Londres, de 1738: editado em castelhano sob os auspícios do aristocrata e político britânico John Carteret.
Em destaque está também a luxuosa edição da Academia da Língua, de 1780, pretexto para uma mostra paralela dos tapetes encomendados por Felipe V a Andrés Procaccini e Domingo Maria Sani e de tecidos dos ateliers dos irmãos Vandergoten, bem como dos desenhos de António Carnicero e José del Castillo que ilustram aquela edição. Curioso é a apresentação de um gravado de Fabregat, segundo desenho de Francisco de Goya, que não foi aceite pela Academia.
As edições infantis desde meados do século XIX, as mais diversas traduções contemporâneas e quatro desenhos de Salvador Dalí, junto a várias edições ilustradas pelo pintor, concluem o percurso expositivo.
A viagem da divulgação de D. Quixote através dos séculos continua ainda por um espaço multimédia. Nesse espaço, a estrela é uma tipografia interactiva, que permite ao visitante compor um fragmento da obra, editá-lo em papel e levá-lo para casa, através de um sistema que combina a técnica actual com a tradição: o tipo de letra é o mesmo utilizado na primeira edição de 1605, que saiu do atelier de Juan de la Cuesta. Com informação complementar, um vídeo revela como se compunha e editava um livro nos finais do século XVII.
As viagens da personagem de Cervantes pelo cinema estão também presentes, através de fragmentos de filmes de vários realizadores. E, por fim, há também uma instalação das iconografias mais divulgadas de quatro séculos de sucessivas edições.

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