Torne-se perito

Voluntariado no fio da navalha

A questão do voluntariado tornou-se principalmente sensível no Exército, o ramo maior e o que mais dependia do Serviço Efectivo Normal (SEN) ou chamado serviço militar obrigatório. Assim que tomou posse, antes do SEN terminar, o Chefe de Estado-Maior do Exército, general Valença Pinto, fixou, através de directiva interna, em 16 mil (14500 no mínimo) o objectivo de praças voluntários para o Exército. O ex-ministro da Defesa, Paulo Portas, baixou a fasquia para os 12 mil e foi com esse número que negociou com o ramo o orçamento dos dois últimos anos. Actualmente, o Exército tem cerca de 12600 voluntários e cerca de 700 em instrução. O objectivo, que as relações públicas do ramo classificam de "meta concretizável", é atingir, no final do ano, os 14500 voluntários.Para atrair jovens militares, este ramo intensificou acções de divulgação (em escolas, centros comerciais, etc), aumentou os períodos de incorporação e beneficiou de alguma abertura dos jovens que são convocados para participar no Dia da Defesa Nacional. O tenente-coronel Vasco Pereira, das relações públicas do ramo, no entanto, explicou ao PÚBLICO, a propósito desta última iniciativa, que "ainda é cedo" para fazer um balanço sobre o impacto do Dia da Defesa Nacional para a entrada de voluntários nas suas fileiras, embora argumente que a maior parte dos jovens que se interessam pela carreira militar manifestam preferência por este ramo. Paulo Portas inaugurou ainda a "Loja da Profissionalização" em Lisboa, que queria que funcionasse como interface de todas as Forças Armadas, mas os métodos de recrutamento ainda continuam a ser descentralizados, muito por pressão do Exército.
De qualquer forma, a estratégia do Governo foi a de fazer depender a estrutura do Exército dos níveis de recrutamento, enquanto o ramo pretendia a lógica contrária.
A Espanha e a Inglaterra, que funcionam com um sistema de voluntariado, enfrentam graves problemas por falta de candidatos. A Alemanha, por seu lado, já recuou na intenção de ter Forças Armadas 100 por cento profissionalizadas. Em Portugal, houve várias resistências, dentro do Exército, quanto ao fim do SEN.
As dificuldades sentidas no Exército com a dificuldade em ter as praças voluntárias necessárias prendem-se também com os constrangimentos financeiros, impostos pelo Governo, e que proíbem a abertura das vagas para civis.
Na Marinha, as carências continuam a cifrar-se na ordem dos 1700 praças. A dificuldade deste ramo tem a ver com a necessidade de mais praças para as novas unidades navais de que está à espera: novas fragatas, patrulhões e Navio Polivalente Logístico.
A Força Aérea é o ramo que há mais tempo funciona em regime de voluntariado, desde 1952, altura em que passou a ramo independente. Em termos de pessoal, as suas carências sentem-se ao nível de pilotos-aviadores, não porque tem poucos candidatos, mas porque não consegue reter, durante os anos suficientes, esses militares. O défice de pilotos, segundo o ramo, é de cerca de 90 pilotos-aviadores. O problema deste ramo não é a dificuldade de atrair jovens militares, mas de os saber reter na instituição militar.
Em 2005, o custo da profissionalização está estimado em 43 milhões de euros. Além do aumento dos salários, têm que ser contabilizados os custos com o regime de incentivos e com a modernização das infra-estruturas, que ainda não está concluída. H.P.

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