Barragem de rejeitados da Somincor foi elevada mais três metros

Obra custou sete milhões de euros

Os resíduos contaminados produzidos na lavaria de cobre de Neves Corvo podem ser acondicionados em segurança, a partir de agora, numa albufeira com 180 hectares de superfície

Encontra-se praticamente concluída a quarta fase de alteamento da barragem do Cerro do Lobo, onde são depositados, desde 1988, os resíduos contaminados com elevados teores de enxofre e metais pesados, produzidos na lavaria do cobre da mina de Neves Corvo, concelho de Castro Verde. O projecto da empresa Somincor, que implicou um investimento de sete milhões de euros, obrigou a uma profunda remodelação dos equipamentos já existentes. A barragem passa a ter uma altura máxima de 41 metros e uma capacidade de armazenamento de 20 milhões de metros cúbicos de água e resíduos rejeitados, contra os 13 milhões na situação anterior. Foram utilizados no reforço e alteamento do paredão em três metros, cerca de 400 mil metros cúbicos de pedra, 24 mil metros quadrados de geomembrana para impermeabilizar as novas áreas da albufeira e instalados dezenas de aparelhos (piezómetros) destinados a controlar a solidez de toda a estrutura.
Um descarregador de sifão veio substitui o descarregador de fundo para libertar as águas de superfície da albufeira, menos contaminadas que as localizadas a uma cota mais baixa. "Só em situação limite e de forma controlada" é que essas descargas podem ser autorizadas na ribeira de Oeiras, no máximo de um décimo do caudal que a linha de água transportar no momento do despejo, acentua Mafalda Oliveira, técnica responsável pelo projecto da barragem dos rejeitados.
Esta solução, quando foi tornada pública, em 1999, suscitou forte polémica por parte da organização ambientalista Quercus, por não estar contemplada nos planos de exploração da mina.
Ao longo dos 3500 metros de aterros que retêm as águas e os rejeitados da barragem do Cerro do Lobo, foram instalados vários poços drenantes, com sistemas de bombagem que reenviam para o interior da albufeira os líquidos perclorantes (contaminados) provenientes de eventuais fugas.
O seu tempo máximo de vida útil é de uma década, superando assim as dificuldades de armazenamento dos resíduos contaminados surgidas em Março de 1999, quando a albufeira atingiu o limite da sua capacidade de armazenamento, devido à forte pluviosidade registada em 1997 e 1998 e ao aumento do ritmo de extracção de minério que se vinha registando desde 1993.
Pressionada pelas consequências ambientais, a empresa mineira teve de recorrer, em Abril de 1999 a uma solução de emergência que passou pela elevação em mais 20 centímetros nos paredões da barragem. Esta medida, apesar de provisória, evitou a continuação das descargas a que a Somincor teve de recorrer para evitar que o caudal da albufeira saísse de forma descontrolada através do descarregador de superfície da barragem.
O acondicionamento dos rejeitados na albufeira do Cerro do Lobo e a sua cobertura com água visa impedir o contacto dos metais pesados com o ar, evitando, desta forma, a sua oxidação e a formação de águas ácidas, típicas nas minas alentejanas de São Domingos e Aljustrel.
Para ultrapassar as dificuldades criadas pelo esgotamento da capacidade de armazenamento do Cerro do Lobo, várias alternativas foram entretanto analisadas para assegurar de uma forma ambientalmente segura o acondicionamento dos rejeitados da mina de Neves Corvo. Contudo, os prejuízos de exploração e as baixas cotações do cobre entre 2000 e 2002, impediram que fosse encontrada uma resposta para os rejeitados da Somincor.
Até que em Abril de 2003, a empresa mineira optou por arrancar com a quarta fase de alteamento da barragem, acrescentando mais três metros aos aterros já existentes e alargando de 130 para 180 hectares a área da albufeira.
Para evitar o "susto" de 1996, ano em que as águas subiram, num espaço de um ano, cerca de dois metros, foram erguidas, a montante da barragem, pequenas albufeiras destinadas a reter as águas pluviais da rede hidrológica. Mafalda Oliveira, garante que "a partir de agora, só a chuva que cai no espelho de água é que aumenta o seu caudal", pormenor que no ano em curso não é tomado em linha de conta, dada a quase nula pluviosidade registada.
Mas como a água "é um bem escasso", salienta Corrêa de Sá, membro do conselho de administração da Somincor, a empresa já está a diminuir o consumo de água nova, de 60 por cento ( 4000 mil metros cúbicos mês) para 15 por cento, do caudal que recebe a partir da barragem de Santa Clara. A alternativa passa por reciclar parte da que está armazenada na barragem do Cerro do Lobo.

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