Campeão mundial de cozinha dá conselhos a portugueses

O luso-descendente Serge Vieira diz que a gastronomia portuguesa precisa dar "um passo em frente"

O luso-descendente Serge Vieira, de 27 anos, que recentemente conquistou o título de melhor cozinheiro do mundo, ao vencer a décima edição do concurso Bocuse d"Or, deixou ontem alguns conselhos aos seus companheiros de profissão portugueses. Apesar de defender que a cozinha portuguesa "tem qualidade", o campeão aproveitou a sua visita de cinco dias a Portugal para lançar um desafio aos cozinheiros lusos: "Dêem um passo em frente, para que a ementa portuguesa seja valorizada e prestigiada como uma das melhores cozinhas do mundo."Um prato de peixe, inspirado em produtos típicos da região de Lyon, e outro de vitela valeram a Serge Vieira o primeiro lugar naquele concurso internacional, que foi disputado em finais de Janeiro na cidade francesa de Lyon. No concurso, participaram 24 chefes de cozinha, representantes de diferentes países de todo o mundo, tendo Serge Vieira representado a França, país onde nasceu e pretende, "em breve", abrir, em colaboração com a namorada, o seu próprio restaurante, confessou ontem, em Guimarães.
Filho de emigrantes portugueses radicados em Clermont-Ferrand, região de Auvergne, foi em Portugal, na cozinha da avó, que vive em Guimarães, onde deu os primeiros passos na arte, ajudando a cozer pão num forno a lenha. "Devo a minha carreira à minha avó, com quem aprendi as primeiras regras da cozinha." Hoje em dia, passa em regra 14 a 16 horas na cozinha, deixando à sua companheira a tarefa de cozinhar em casa. "Não posso estar sempre a fazer a mesma coisa. Só temos uma vida, há que gozá-la também", justifica.
O seu prato preferido é o caldo verde, que diz não comer "há anos". Quanto à comida portuguesa, o melhor cozinheiro do Mundo garante conhecer bem "o bacalhau" e alguns outros pratos tradicionais, que precisariam apenas de um pouco mais de "sofisticação" para poderem ombrear com as mais prestigiadas ementas, de entre as quais destaca a francesa.
A carreira de cozinheiro começou aos 16 anos. Estava indeciso entre a culinária e o desenho industrial e teve que optar. "Não queria ter uma vida como os outros, trabalhar em gabinetes.", explica, num português carregadíssimo de sotaque. De resto, salienta, "na cozinha também continuo a poder usar os meus dotes de desenho".
Profissional desde 1998, mantém a mesma "postura humilde e trabalhadora" que lhe ensinou a família. "Não me sinto o melhor cozinheiro do mundo. Tive a sorte de estar em forma nos dois dias do concurso. Creio que o júri valorizou a coerência entre os dois pratos que apresentei. Por isso quero abrir o meu restaurante, para provar se sou ou não o melhor", afirmou ontem em Guimarães, onde foi recebido nos paços do concelho e alvo de uma pequena homenagem.

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